A nova vida da Fundação Ellipse com 300 obras de arte em Alcoitão

A grande festa de inauguração está marcada para 15 de Outubro com 500 convidados internacionais,
mas é já amanhã que a Ellipse mostra pela primeira vez a sede da sua colecção de arte contemporânea

Lisboa e o Centro Cultural de Belém ficam com a Colecção Berardo, a alguns quilómetros na direcção de Cascais, Alcoitão fica com a sede daquela que se propôs ser uma das mais importantes colecções internacionais de arte da transição do século XX para o século XXI.Depois de dois anos de aquisições em que não fez qualquer apresentação pública das obras, a Fundação Ellipse inaugura amanhã dez salas de exposição de diferentes escalas nos 1600 metros quadrados de área expositiva de um conjunto de armazéns requalificados pelo arquitecto Pedro Gadanho.
É neste espaço, ainda com reservas e escritórios, que a já polémica colecção de arte contemporânea do Banco Privado Português (BPP) e 30 investidores portugueses, espanhóis e brasileiros será apresentada ao longo dos próximos cinco a dez anos.
Segundo João Rendeiro, presidente do BPP e da Ellipse, o investimento de 4 milhões de euros na construção da uma sede para a colecção surgiu há cerca de um ano e meio como solução de recurso, depois de não se ter conseguido chegar a um acordo de depósito no Museu de Serralves e contrariando o projecto inicial da fundação, que não incluía um espaço próprio.
É um investimento paralelo aos 10 milhões de euros que já foram aplicados na compra de obras de uma centena de artistas internacionais, nomes de referência como Cindy Sherman, Dan Graham, Douglas Gordon, John Baldessari, Jeff Wall, James Coleman, e portugueses como Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, João Onofre e João Pedro Vale (a colecção está on-line em www.ellipsefoundation.com).
Para além de Serralves, houve e há ainda tentativas de negociação com organismos públicos em Lisboa e Cascais. "Há uma enormíssima incapacidade de decisão. Quando se apresentam pérolas elas são vistas como pedras. É verdadeiramemente frustrante", diz Rendeiro. "Chegámos uma vez mais à conclusão que era melhor um espaço cem por cento privado."

10 milhões de eurospara 300 obras
A meio dos 20 milhões de euros anunciados como dotação para quatro anos de compras, a fundação tem neste momento cerca de 300 obras, um espólio que começará a ser apresentado em exposições temporárias, a primeira das quais a inaugurar a 23 de Junho.
A um ritmo de três por ano, as exposições deverão ser comissariadas por curadores internacionais convidados e pelos responsáveis de compras da fundação, Alexandre Melo critico de arte e assessor para a Cultura do primeiro-ministro José Sócrates, Pedro Lapa, director do Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea, e o comissário independente norte-americano Manuel Gonzáles, anteriormente ligado à Colecção JPMorgan Chase, do banco novaiorquino com o mesmo nome.
Cada exposição permitirá apresentar cerca de dez a quinze por cento da colecção, ficando os restantes 85 a 90 por cento nas reservas ou em empréstimos a instituições internacionais, diz Pedro Lapa.
No centro de polémicas em que se viu acusado de sobreposição de interesses por estar à frente de um museu público e a fazer compras para uma colecção privada, Lapa diz que é a partir de agora que se provará que "juízos precipitados servem de muito pouco perante a capacidade de reagir contra o imobilismo habitual".
Segundo Lapa, a colecção da Fundação Ellipse vem provar que "com vontade, determinação, empenho e os meios certos, é possível criar lugares de referência em Portugal".
"Conseguimos os nossos objectivos", diz Alexandre Melo, sublinhando que a fundação coligiu "um conjunto muito significativo de obras fundamentais das últimas duas décadas".
Ainda segundo Melo, tem-se seguido o plano inicial de aquisições com enfoque em artistas a meio das suas carreiras (50 por cento do investimento), incursões pela obra de artistas seminais (30 por cento) e alguns jovens artistas (20 por cento).
Segundo João Rendeiro, procura-se muito intencionalmente "o mainstream da arte contemporânea, com níveis de risco muito minimizados", apesar de não haver qualquer intenção de um dia se vender a colecção.
Ainda segundo o presidente do BPP e da Ellipse, na origem do projecto houve duas opções-chave: criar uma fundação, em vez, por exemplo, de um fundo de arte, e estabelecer um sistema de aquisições bastante institucionalizado em que, para além dos três comissários principais, há ainda um quadro alargado de consultores internacionais.
"Por um lado, achei fundamental ter uma colecção representativa do nosso tempo e não apenas do gosto de determinada pessoa, que era o que aconteceria se houvesse apenas um comissário. Por outro lado, é muito diferente uma lógica de aquisição de uma colecção onde estamos a falar de articulações e conjunto com significado em vez de peças isoladas e com a perspectiva mais transaccional de um fundo."
Segundo Rendeiro, a Fundação Ellipse está "no primeiro escalão dos melhores artistas internacionais" e o seu novo espaço, apesar de privado, terá "uma lógica de serviço público".
Depois da inauguração de amanhã e da primeira exposição, a 23 de Junho, o espaço estará aberto ao público três dias por semana, sete horas por dia (sexta a domingo, das 11h às 18h). A partir de 15 de Outubro, quando terá a sua grande festa de abertura, com 500 convidados internacionais, deverá começar a fazer também projectos de residências de artistas em articulação com a escola de artes visuais Maumaus.
Entre outras actividades estão previstas ainda conferências e seminários com historiadores, artistas e comissários internacionais. Em curso está também a criação de uma rede de colaboração com fundações semelhantes na Europa e Estados Unidos, de forma a poder haver intercâmbio de obras e exposições.
A inauguração de amanhã "é o primeiro momento de uma nova fase da vida da fundação", diz Alexandre Melo.

Fundação Ellipse
ALCOITÃO Rua das Fisgas, Pedra Furada. Amanhã, das 18h às 21h. Entrada livre.

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