Direita francesa pode decidir hoje destino do Governo de Villepin
A reunião da UMP é presidida pelo seu chefe, Nicolas Sarkozy, que está a ser aconselhado por partidários a deixar o Governo o mais depressa possível, para não prejudicar as suas aspirações a ocupar o lugar de Chirac no Eliseu, em 2007 (ver texto em baixo).
Cada dia, aparecem novas peças do puzzle Clearstream, ora elucidando aspectos deste complexo escândalo, ora adensando ainda mais o mistério. Parece cada vez mais plausível que Chirac e Villepin, lançaram um inquérito em 2004 contra o inimigo comum dos dois, Sarkozy.
Para desqualificarem o rival na luta pela liderança na direita, o Presidente e o primeiro-ministro serviram-se dos serviços secretos do Estado, e de um especialista das questões de espionagem, o general Philippe Rondot. Apesar dos desmentidos do Eliseu, os apontamentos de Rondot tenderiam a demonstrar a implicação directa de Chirac na direcção do inquérito. Por seu lado, Villepin tentou utilizar informações falsas de corrupção política para tentar comprometer Sarkozy. E essas informações parecem ter partido do seu amigo Jean-Louis Gergorin, antigo "número dois" do grupo de armamento EADS.
Ninguém sabe se foi Villepin quem montou todo o caso contra Sarkozy, a partir das listas falsificadas. Quanto ao ministro do Interior, alertado por um jornalista, a pedido de Rondot, teria feito de conta que não sabia de nada, para tentar virar o caso contra Chirac e Villepin.
Todo o caso Clearstream, que sucede às crises graves do subúrbios e da revolta contra a reforma laboral do CPE, ilustra o naufrágio do fim de mandato de Chirac. A agonia do país acabaria rapidamente com presidenciais antecipadas. Mas nada, na Constituição, obriga o Presidente a demitir-se, e ninguém acredita que Chirac deixará o Eliseu um dia antes, sequer, do fim do seu mandato, em Maio de 2007.
Havia a hipótese de uma substituição de Villepin por Sarkozy. Alvitrada há uma semana, esta solução está agora descartada. Desde então, Chirac reiterou o seu apoio a Villepin. E 49 por cento dos franceses sondados pelo instituto CSA pensam que Sarkozy não deve ir para Matignon (sede do Governo). Neste contexto, a extrema-direita vai marcando pontos.
Numa entrevista ao diário Libération, o sociólogo Emmanuel Todd qualifica todo o caso Clearstream de "fuga dos políticos para fora da realidade". Frisa a "crise séria" da sociedade francesa, "em que as classes médias se juntaram aos meios populares na rejeição das classes dirigentes", como o demonstram o "não" francês à Constituição europeia, ou a revolta contra o CPE, e fustiga "o histerismo do sistema político e mediático" que se focaliza "na questão de somenos importância que constitui o caso Clearstream".