Albertino Figueiredo: rei dos selos é de Viseu
Tem uma cátedra na Universidade de Santiago de Compostela com o seu nome, foi empresário do ano em Espanha em 1989, tem uma fundação, é dono da maior empresa de filatelia do mundo, mas muito poucos em Portugal saberão quem é Albertino de Figueiredo, o dono da Afinsa, agora no centro de um caso de suspeita de ter lesado mais de 300 mil pessoas, e que ontem foi detido na sequência da investigação das autoridades espanholas. Albertino de Figueiredo nasceu em Oliveirinha (Viseu) a 2 de Janeiro de 1931. Desde cedo começou a ajudar o pai nos negócios de uma empresa de camionagem. Licenciou-se em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico de Lisboa, mas voltou para Viseu, onde foi director comercial de um estabelecimento de distribuição de automóveis. Vai progredindo à frente dos negócios da família, até que, segundo uma biografia feita pela revista Focus, a falta de apoio médico em Portugal para a poliomielite de uma filha o faz mudar-se para Madrid. Mas não foi a mudança para Madrid que o fez mudar de ramo. Lá continuou a trabalhar no sector automóvel, como engenheiro mecânico, ficando na mesma fábrica durante 23 anos, tendo subido até ao cargo de director. Foi só em 1980 que decidiu que a sua faceta de coleccionador de selos, que tinha iniciado aos oito anos, afinal podia ser um bom negócio e se lançou na criação da Afinsa. O valor dos selos já o tinha começado a perceber uns anos antes, em 1975. Um galego, que tinha uma loja de selos em Madrid onde Albertino costumava ir, tinhao contactado a oferecer um selo raro pelo qual pediu o equivalente a três anos de ordenado do então director de produção de uma fábrica de automóveis. O português acabava de receber a herança dos seus pais, mas não podia levar o dinheiro para Madrid, nem o galego queria receber o dinheiro em Portugal. Mas deu-lhe a solução para o problema: transformar o dinheiro em selos em Portugal, que ele próprio lhos compraria em Espanha. O espaçoso Dodge de Albertino passou, então, a fronteira carregado de selos, que a Guarda Fiscal, em Vilar Formoso, demorou a aceitar que tinham apenas valor sentimental. Quando chegou a Madrid, sem que Albertino negociasse, o galego pagou-lhe o dobro do que os selos tinham custado em Portugal. “Pareceu-me um bom negócio, mas estava mal feito. Ninguém fazia nada para prestigiar a filatelia. No espírito da gente estava que era uma brincadeira para crianças e reformados e, no fundo, faziam-se grandes negócios escondidos. Era impressionante. Eu pensei em fazer algo diferente”, contou. Albertino de Figueiredo começou, então, a usar as férias para estagiar em casas de filatelia. Em 1980 cria a Afinsa, mas durante oito anos ainda conciliará a empresa com o emprego na fábrica, onde chegou dirigir seis mil pessoas. Em 15 anos torna-se o maior comerciante de selos do mundo. Uma situação que explica com a valorização que os selos conheceram: desde o seu aparecimento, em 1840, aumentaram 13 mil vezes de valor. “É mais rentável que a banca, mais seguro que a bolsa e mais acessível que o imobiliário”, disse. A sua própria colecção, a maior de selos portugueses, tem mais de cinco mil folhas. Mas Albertino de Figueiredo também tem uma colecção de arte, que reúne obras de Renoir, Picasso, Miró e Vieira da Silva. Tem casas em Madrid, Pamplona, Paris e no Mónaco e nos últimos anos foi várias vezes apontado e premiado como caso de sucesso empresarial nas economias ibéricas. Isso valeu-lhe mesmo a condecoração oficial portuguesa, concedida pelo então embaixador português em Madrid, Martins da Cruz, que mais tarde haveria de convidar para a administração do grupo.Eunice Lourenço/PÚBLICO |
Selos: audição de Albertino de Figueiredo já terminou
O empresário luso-espanhol Albertino de Figueiredo, fundador e presidente honorário do grupo Afinsa, foi hoje ouvido durante pouco mais de uma hora na Audiência Nacional em Madrid, no âmbito da investigação sobre casos de fraude que também abrangem o Fórum Filatélico.
Albertino de Figueiredo foi o primeiro dos nove detidos a depor perante o juiz de instrução Santiago Pedraz, na sequência da operação anti-fraude desencadeada na terça-feira.
À saída da audiência, Figueiredo foi interpelado por uma jornalista, que o questionou sobre as informações que acabara de transmitir ao juiz. O responsável respondeu apenas que a audiência "correu bem". O empresário luso-espanhol escusou-se a responder a outras questões dos jornalistas.
Seguiu-se a audição do presidente da Afinsa em Espanha, Juan António Cano Cuevas. Numa outra sala da Audiência Nacional está a ser ouvido o presidente do Fórum Filatélico, Francisco Briones Nieto.
Os nove detidos - quatro da Afinsa, um de uma empresa fornecedora da Afinsa e quatro do Fórum Filatélico - foram transportados à primeira hora da manhã de hoje para as celas da Audiência Nacional.
O processo aponta para a audição de todos os detidos, a que se seguirá um encontro judicial, no final do qual qual será anunciado quem será constituído arguido.