CP acaba com comboios Intercidades de Lisboa para Guarda e Covilhã

Intercidades vão ser substituídos por automotoras em viagens mais curtas.

A CP prepara-se para extinguir os Intercidades que hoje ligam Lisboa à Guarda e à Covilhã, terminando assim com as ligações directas entre as Beiras e a capital. A oferta que está a ser preparada prevê um serviço baseado em automotoras eléctricas renovadas que farão trajectos curtos da Guarda e de Castelo Branco para, respectivamente, Coimbra e Entroncamento, onde os passageiros terão de mudar de comboio para seguir até Lisboa.O objectivo da empresa pública é optimizar a gestão da frota fazendo circular menos comboios nas linhas, o que se traduz numa poupança na taxa de uso (portagem ferroviária paga à Refer), energia eléctrica e manutenção. Os estudos indicam que, mesmo que os passageiros reajam mal aos transbordos e se perca algum mercado, os resultados operacionais serão sempre positivos face à redução de custos obtidos.
Na prática, desaparecem os comboios com máquinas e carruagens da Beira Alta e da Beira Baixa para dar lugar a automotoras com 30 anos de serviço, mas que foram recentemente alvo de uma reabilitação. Os ferroviários chamam-lhes Lili Caneças devido à operação de cosmética, mas é precisamente outro "refrescamento" aquilo que a CP agora lhes propõe para transformar o seu interior mais adequado a um serviço Intercidades. Os assentos serão mais confortáveis e haverá zonas multifunções para passageiros que queiram trabalhar, viajar em pequenos grupos ou simplesmente comer o farnel. O bar, esse, desaparece, devendo ser substituído por máquinas de venda de alimentos.
Apesar da alteração no seu interior, as UTE (Unidades Triplas Eléctricas) são sempre menos confortáveis do que as actuais carruagens do comboio Intercidades, sobretudo ao nível da suspensão, onde os clientes da CP mais sentirão a diferença.
Sendo menos rápidas, limitadas a 120 km/hora, as UTE não vão permitir reduzir o tempo de percurso, pois as actuais composições são formadas por locomotivas que podem alcançar os 160 km/hora e que menos facilmente conseguem recuperar atrasos. Por outro lado, a existência de um transbordo agravará ainda mais o tempo de viagem.
As duas estações onde se muda de comboio - Coimbra, para a Beira Alta, e Entroncamento, para a Beira Baixa - estão também longe de oferecer boas condições para os passageiros, sobretudo no Inverno, onde dificilmente se escapa às rajadas de vento e de chuva. E perde-se, por fim, a vantagem de se poder embarcar em Guarda, Mangualde ou Nelas e viajar directamente até Santa Apolónia, o mesmo acontecendo a quem ainda hoje entra em Castelo Branco ou na Covilhã e só sai da composição em Lisboa.
Historicamente, nos 150 anos do caminhos-de-ferro em Portugal que este ano se comemoram, é a primeira vez que deixa de haver comboios directos das Beiras para Lisboa.A cidade que mais fica a perder será Covilhã. Hoje ainda dispõe de quatro comboios directos a Santa Apolónia. No futuro, quem se atrever a viajar com a CP, terá de apanhar três comboios: um da Covilhã para Castelo Branco, outro desta cidade para o Entroncamento e, por fim, um terceiro até Lisboa.

A construção de uma variante ferroviária à Linha da Beira Alta para servir a cidade de Viseu não está prevista nos investimentos da Refer para o próximo ano, soube o PÚBLICO junto de fonte oficial do Ministério das Obras Públicas e Transportes. O esforço financeiro vai ser dedicado à alta velocidade entre Porto, Lisboa e Badajoz, não estando previstos outros projectos na rede convencional para além da actual electrificação da Linha da Beira Baixa, da modernização do troço Casa Branca-Évora e da construção da variante de Alcácer do Sal para diminuir o tempo de percurso para o Algarve. Em Viseu, os autarcas que, nos últimos tempos, têm reivindicado o regresso do comboio, estão a dar-se conta de que a linha de alta velocidade Aveiro-Viseu-Salamanca foi posta na gaveta, a variante à Beira Alta não é prioridade e, por fim, até os comboios directos de Mangualde e Nelas (estações que servem Viseu) para Lisboa vão desaparecer. C.C.

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