Soldados de Timor-Leste ameaçam com guerrilha

Duas a três mil pessoas desfilaram em Díli, em apoio de cerca de 600 militares rebelados

Cerca de 600 soldados afastados das fileiras das Forças Armadas de Timor-Leste no mês passado, na sequência de protestos sobre as suas condições de serviço, ameaçaram ontem passar da indignação à guerrilha se a sua situação não for atendida. Cerca de 2 mil pessoas desfilaram ontem em Díli, a capital, num gesto de solidariedade com os militares. "Instamos o Governo, o Presidente, o Parlamento e o Tribunal de Recurso a resolver o nosso problema (...) em cinco dias", disse o porta-voz do levantamento, o segundo-tenente Gastão Salsinha, citado pela agência Associated Press. O oficial foi o coordenador da greve do dia 8 de Fevereiro.
"Nós, os peticionários, estamos prontos a conduzir uma nova guerra de guerrilha em Timor-Leste se os nossos líderes formais neste país não arranjarem uma solução política para o nosso problema", acrescentou o militar Salsinha. O tom foi interpretado como sendo o de um ultimato.
Milhares de pessoas - 2 mil segundo a Lusa, 3 mil de acordo com a Associated Press - desfilaram na capital timorense numa manifestação de solidariedade com os militares rebeldes. A marcha percorreu cerca de 10 quilómetros, com panos e cartazes denunciando o desinteresse das autoridades para os problemas na base da luta.

"Loromonu"Enquanto marchavam, militares e civis gritavam "loromonu", termo que identifica os naturais dos dez distritos mais ocidentais do país - Aileu, Ainaro, Bobonaro, Covalima, Díli, Ermera, Liquiçá, Manatuto, Manufahi e Oecussi -, constatou a Lusa. Os restantes três distritos, Lautém, Viqueque e Baucau, são designados como "lorosae".
Os manifestantes, alguns deles fardados, fizeram quatro paragens durante o percurso, entregando as suas reivindicações a todos os destinatários em causa. Em todas afirmam que, se no prazo de cinco dias não tiverem resposta para elas, estão dispostos a "morrer pela justiça e a transparência".
A agitação nas fileiras timorenses começou a 8 de Fevereiro, quando centenas de militares se concentraram, desarmados, junto da Presidência da República, para que o titular do cargo, Xanana Gusmão, na sua qualidade de comandante supremo das Forças Armadas, obtivesse uma solução para as suas reivindicações. O protesto e os que se seguiram levaram o brigadeiro-general Taur Matan Ruak, apoiado numa nota da Presidência do Conselho de Ministros, a acusar os contestatários de se terem colocado à margem da Constituição, o que estes rejeitam.
O maior número de amotinados participou activamente na luta contra a ocupação indonésia. Os motivos da rebelião são as condições do exercício da sua missão - "nepotismo e injustiça", disseram à Associated Press. A Lusa refere discriminações.
O primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, disse, citado pela Associated Press, que o Governo "está preparado para cooperar com outras instituições, incluindo o Presidente e o Parlamento, em ordem a resolver este problema".

Sugerir correcção