Tecnologia que permite produzir ecrãs transparentes está a ser desenvolvida em Portugal

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A equipa de Rodrigo Martins e Elvira Fortunato conseguiu produzir semicondutores transparentes e flexíveis Enric Vives-Rubio

Imagine que o vidro da sua banheira, o pára-brisas do seu automóvel ou a folha transparente de acetato que usa regularmente são ecrãs. Não estamos a falar de sítios onde se projectam imagens, mas verdadeiros ecrãs que, uma vez desligados da corrente eléctrica, mantêm as propriedades de transparência a que está habituado. Por mais que olhe para os vidros não vê fios, nem percebe como é possível que eles acendam com o simples ligar e desligar de um botão.

A tecnologia por trás destes ecrãs chama-se electrónica transparente e, apesar de estarmos a falar dela com se de um sonho se tratasse, há uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa que acabou de assinar um contrato com a Samsung para desenvolver estes novos dispositivos.

Há, aliás, um protótipo a funcionar actualmente no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa, onde uma pequena luz (um LED) se acende no centro de um vidro, sem que, aparentemente, haja quaisquer fios a ligá-la.

"Estamos muito satisfeitos que uma empresa como a Samsung nos tenha escolhido para uma parceria deste tipo", diz ao PÚBLICO Rodrigo Martins, professor catedrático da Universidade Nova e um dos responsáveis por este projecto. "É um dos primeiros projectos da Samsung na Europa e só isso mostra a importância que a empresa atribui a esta tecnologia."

A actual tecnologia de criação de circuitos é baseada no silício e tem quatro problemas fundamentais: para criar os circuitos integrados são necessárias altas temperaturas; os gases utilizados na produção desses circuitos são explosivos ou venenosos; são necessárias câmaras limpas com atmosferas controladas; e as ligações metálicas são incompatíveis com computadores flexíveis.

A electrónica transparente é um campo relativamente recente. A ideia é conseguir produzir circuitos electrónicos com a qualidade dos actuais circuitos de silício, mas invisíveis ao olho humano, usando tecnologias limpas, capazes de satisfazer a necessidade de criação de computadores e ecrãs flexíveis.

Várias equipas de investigadores em todo o mundo têm-se dedicado a esta tarefa, experimentando diversos materiais capazes de satisfazer as condições ambientais e de flexibilidade exigidas. Em 2003, Elvira Fortunato e a sua equipa da Universidade Nova de Lisboa conseguiram pela primeira vez produzir dispositivos semicondutores à temperatura ambiente, usando óxido de zinco como material condutor.

O artigo científico que comunicou esta descoberta foi publicado na prestigiada Apllied Physics Letters e foi ele que despertou o interesse da Samsung na investigação que estava a ser realizada em Portugal.

O trabalho de Elvira Fortunato, que ainda continua a ser desenvolvido para poder vir a ser usado em dispositivos comerciais, perece resolver várias questões de uma só vez.

A principal é o facto de o óxido de zinco poder ser impresso nos materiais à temperatura ambiente, o que significa que, pelo menos teoricamente, pode ser usado em quase todos os tipos de material, incluindo o plástico ou um simples acetato. Este facto faz com que os circuitos impressos possam vir a ser usados em dispositivos flexíveis, como ecrãs que se enrolam ou quaisquer outros plásticos transparentes.

Para além disso, o óxido de zinco utilizado pela equipa de Elvira Fortunato não levanta os problemas ambientais que outros materiais semelhantes levantam, para além de ser extremamente abundante, o que é uma vantagem. Nos próximos meses, a equipa da Nova vai desenvolver estes dispositivos no âmbito do acordo com a Samsung (cujos pormenores não podem ser divulgados por razões comerciais) e também de forma independente.

"Acreditamos nesta nova tecnologia e achamos que vamos conseguir desenvolvê-la no futuro", diz Elvira Fortunato, que desde há muitos anos se vem dedicando à área da tecnologia transparente. "Pôr um óxido a conduzir corrente é semelhante a conseguir que um cimento conduza electricidade, já que se trata de um material cerâmico. Há cinco anos, ninguém pensava que isto poderia ser possível."

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