Torne-se perito

O início do computador pessoal

Dois amigos criaram a empresa que deu origem aos PC e foi suplantada pelas máquinas com software da Microsoft

Fundou a Apple depois de uma digressão espiritual pela Índia. Criou o computador onde foi inventada a World Wide Web. É milionário, mas tem um salário de um dólar por ano. Steven Jobs, chief executive office da Apple, nasceu em 1954, na Califórnia. Em 1976 fundou com Steve Wozniak a Apple, mas divergências internas levaram à sua saída em 1985. Fundou então a NeXT, em cujos computadores Tim Berners-Lee criou a Web. Em 1996, a Apple comprou a NeXT, Jobs reassumiu a chefia da empresa e é o responsável por tê-la relançado no mercado numa altura de crise. J.P.P.
O menos famoso co-fundador é o cérebro por trás da maioria das inovações que tornaram os computadores Apple revolucionários. Stephen Wozniak (Woz) nasceu em 1950 e despediu-se da HP para lançar a Apple. O Apple I era um computador pessoal que ele tinha desenvolvido para o seu próprio uso. Em 1985, Wozniak abandonou a empresa. Deu aulas, levou a cabo acções de caridade e fundou a empresa que fabricou os primeiros controlos remotos de televisões. J.P.P.
Há 30 anos, ter um computador pessoal não passava de um sonho de entusiastas da electrónica. Não se escrevia em processadores de texto, não se usavam folhas de cálculo. Os computadores pessoais eram o hobby de alguns e, nos Estados Unidos, havia clubes de informática onde trocavam ideias e experiências. Mas dois rapazes californianos chamados Steve, que em 1976 pouco passavam ainda dos 20 anos, mudaram para sempre a relação do mundo com os computadores, ao fundar, no dia de 1 de Abril, a Apple Computers.
Steve Wozniak tinha 25 anos, e não queria mudar o mundo. Isso era com o amigo, Steve Jobs, que sonhava criar uma empresa para vender um produto revolucionário. Wozniak (que todos tratam por Woz) só queria fazer aquilo que mais gozo lhe dava: inventar computadores. Quando não tinha dinheiro para montar próprios circuitos integrados entretinha-se a desenhá-los em papel.
Já Steve Jobs, de 21 anos, era um verdadeiro evangelista da tecnologia: hippie vegetariano que muitas vezes andava descalço, tinha regressado há pouco de uma viagem em busca de iluminação à Índia, mas tinha os pés bem assentes na terra. Não sabia programar computadores, mas tinha dotes de vendedor. O génio de Woz ofereceu-lhe a oportunidade de montar uma empresa, para vender o computador Apple I.
Jobs chateou toda a família e amigos de Woz, para o convencerem a abandonar o emprego na Hewlett Packard e a fundar uma empresa com ele. "O meu objectivo não era fazer muito dinheiro. Era construir bons computadores. Só aceitei fundar a empresa quando percebi que assim podia ser engenheiro para sempre", contou ao jornal San Jose Mercury News.
Jobs teve de vender a carrinha Volkswagen e Woz a calculadora para começarem a produzir o Apple I na garagem - mas era apenas uma placa-mãe, onde são colocados os componentes do computador. Não fizeram uma caixa para o envolver. Isso só aconteceu com o Apple II, lançado em 1977, que foi o primeiro grande sucesso da empresa, e os tornou reis do nascente mercado da microinformática. Em 1980, quando as acções da Apple foram vendidas em bolsa, esgotaram-se numa hora e Jobs pôde comprar o seu primeiro Mercedes e uma mansão.
Mas os anos de brasa na Apple vieram depois, quando a empresa se dividiu em dois projectos concorrentes, o Lisa e o Macintosh. Jobs, cujo mau feitio é lendário, foi afastado do primeiro e dedicou-se de alma e coração ao segundo. Foi em 1984 que se revelou o pequeno Mac, com rato e interface gráfica, que espantou o mundo com a sua campanha publicitária - mas as vendas ficaram muito aquém do esperado. Em 1985, o conselho de administração da Apple afastou Jobs.
Com o carismático líder da empresa fora - Woz já se tinha afastado antes, depois de um acidente de aviação que o deixou várias semanas amnésico -, a Apple foi-se afirmando no mercado das aplicações gráficas, mas nunca teve mais que cinco por cento do mercado. Jobs, por seu lado, fundou a NeXT, para vender computadores para a investigação, e manteve a fama de aventureiro. Em 1996 foi convidado a regressar à empresa da maçã, quando esta acumulava prejuízos.
De regresso, Jobs relançou a Apple. Transformou o sistema operativo desenvolvido pela NeXT, baseado em Unix, no Mac OS X, e lançou uma linha de computadores coloridos e arredondados como rebuçados, os iMacs e o portátil iBook. Os cépticos disseram que era o triunfo da forma sobre o conteúdo, mas Jobs tinha mais surpresas na manga.
A maior de todas foi o iPod, o leitor de mp3 em cuja concepção Jobs se empenhou, apostado em que usá-lo fosse como vestir uma segunda pele.
Dizem que Jobs está a mudar o carácter da Apple, trocando a informática pela electrónica de consumo. Mas, das empresas pioneiras dos computadores pessoais, a Apple é a que se mantém no mercado - até a IBM, que lançou os PC compatíveis, já anunciou a sua retirada. Talvez os tempos estejam mesmo a mudar, como dizia Bob Dylan, um dos ídolos dos dois Steve.

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