População de Ferrel revive primeiro protesto antinuclear 30 anos depois

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A Plataforma Não ao Nuclear "arranca amanhã", com o objectivo de organizar debates, já que, até agora, serviu apenas para apoiar as comemorações dos 30 anos dos protestos de Ferrel DR (arquivo)

Vários ambientalistas de diversos pontos do país e habitantes de Ferrel relembraram hoje os 30 anos do primeiro movimento antinuclear do país e reafirmaram a sua oposição a uma nova tentativa de construção de uma central nuclear em Portugal.

Mais de duas centenas de pessoas concentraram-se hoje em Ferrel, após o que rumaram de automóvel ao "Moinho Velho" - local onde há 30 anos decorriam trabalhos preparatórios para a construção de uma central nuclear.
A 15 de Março em 1976, os 1500 habitantes de Ferrel também se deslocaram a este local, situado a quatro quilómetros da aldeia, e conseguiram impedir o avanço dos trabalhos.

Esta manifestação marcou início de um processo que culminaria com a desistência do projecto, tendo-se realizado até 1978 outras manifestações que contaram com o apoio de organizações ambientalistas internacionais.

"A plataforma está voltada não só para este local mas para o país no seu conjunto e pretende provar que as ideias [pró-nuclear] são superficiais e em alguns casos desonestas, porque, por exemplo, a questão da radioactividade é uma questão central", afirmou à Lusa José Carlos Marques, porta-voz da Plataforma Não ao Nuclear.

José Carlos Marques disse que a Plataforma Não ao Nuclear "arranca a partir de amanhã", com o objectivo de organizar debates sobre o tema, já que, até agora, serviu apenas para apoiar as comemorações dos 30 anos das manifestações de Ferrel.

"Passados 30 anos há novas gerações e novos capitalistas e muitos dos problemas de há 30 anos são hoje exactamente iguais, ouço defensores do nuclear utilizarem os mesmos argumentos que já foram desacreditados há 30 anos", afirmou, por seu lado, Delgado Domingos, professor jubilado do Instituto Superior Técnico.

Delgado Domingos, que hoje se deslocou a Ferrel, disse que há 30 anos escreveu artigos contra o nuclear e que nessa altura esteve em Peniche a esclarecer a população.

"O nuclear não tem novidades. Contrariamente ao que tentam vir agora dizer, as novas centrais são iguais às antigas", disse Delgado Domingos, referindo-se ao projecto privado de construção de uma central liderado pelo empresário Patrick Monteiro de Barros.

"É preciso chamar a atenção quanto às alternativas que são mais sustentáveis e que representam uma melhor viabilidade para o país e que passam por melhorar a eficiência energética e por apostar nas energias renováveis", frisou o presidente da associação ambientalista Quercus, Hélder Spínola.
No mesmo sentido, o eurodeputado Miguel Portas (do BE), também presente em Ferrel, considerou que o nuclear é uma "péssima solução".

Comentando um estudo de opinião publicado ontem no semanário "Expresso", segundo o qual 51,7 por cento dos eleitores é favorável à construção da central, o eurodeputado disse que "o assunto tem estado fora da agenda e as pessoas sentem o problema do preço do petróleo".

"Quando lhes acenam com uma solução do tipo D. Sebastião a primeira reacção habitual em Portugal é esta. A segunda é a de pensar e quando as pessoas começam a pensar as opiniões das sondagens também mudam", vaticinou.

Miguel Portas frisou igualmente que "o projecto [de Patrick Monteiro de Barros] não tem pernas para andar e não resolve nenhum problema".

"O problema resolve-se com menos dinheiro e mais rapidamente só poupando e aumentando a eficiência do uso da energia que temos", defendeu ainda o eurodeputado bloquista.

No "Moinho Velho", jovens activistas do não ao nuclear escreveram várias faixas com frases a favor das energias renováveis. No local para onde estava prevista a central os campos encontram-se hoje cultivados com produtos hortícolas. Os 150 hectares permanecem terrenos baldios, mas são ocupados por uma centena de agricultores.

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