Krystian Zimerman, um pianista obcecado pela perfeição

Notável pianista polaco
estreia-se na Casa da Música, com Mozart, Ravel e Chopin

"Perfeição" ou "perfeccionismo" são palavras recorrentes nas recensões de concertos e discos ou noutros artigos dedicados a Krystian Zimerman, um dos mais extraordinários pianistas do nosso tempo, que se apresenta esta noite (às 21h) na Casa da Música, no Porto. O programa é belíssimo e propõe a variedade de expressão no seio de uma coerente simetria estrutural: começa com o classicismo elegante da Sonata de Mozart (em Dó Maior, KV 330) e termina com o romantismo trágico da Sonata n.º 2, op. 35, de Chopin. No centro do recital, a Balada n.º 4 (também de Chopin) é antecedida pelas Valses nobles et sentimentales, de Ravel, e seguida pelas Quatro Mazurcas op. 24, de Chopin, que nos mostram assim duas vertentes bem diferenciadas da inspiração na dança.Mas o "perfeccionismo" de Zimerman, decorrente de uma técnica impecável e de uma longuíssima maturação das obras, está bem longe das fórmulas estereotipadas da interpretação que se encontram em muitos virtuosos lançados pelos concursos internacionais e pelas editoras discográficas. Pelo contrário, é um artista de personalidade vincada, autor de abordagens muito pessoais do repertório, que tanto atraem a admiração sem limites como a recusa. Conhecido por nem sempre anunciar com a devida antecedência os programas dos seus recitais e por, desde há dez anos, se recusar a tocar noutro instrumento que não seja o seu próprio piano, é por outro lado um intérprete que mantém uma certa reserva em relação à exposição mediática.
Impõe-se o limite de 50 concertos por ano e fomenta uma carreira globalizante onde se encarrega pessoalmente da gestão, do estudo acústico das salas onde toca e das últimas descobertas acústicas no domínio da construção de instrumentos. A exigência de tocar sempre no seu próprio piano prende-se com o seu grande conhecimento sobre a sua mecânica (adquirido em Katowice e desenvolvido em estreita colaboração com a Steinway, em Hamburgo), permitindo-lhe extrair o máximo do seu potencial e controlar os mínimos detalhes. O mesmo cuidado meticuloso é posto nas suas gravações para a Deutsche Grammophon, com quem tem um contrato exclusivo.

Pianista criou orquestra para o 150 anos de ChopinEsta busca incessante da perfeição levou-o a criar propositadamente uma orquestra por ocasião do 150.º aniversário da morte de Chopin (em 1999) - a Polish Festival Orchestra, com a qual fez uma digressão na Europa e na América, com os dois concertos de Chopin, posteriormente registados em disco. As razões que presidiram a esta iniciativa relacionam-se com o facto de poder trabalhar com uma orquestra com maior disponibilidade para ensaiar (do que aquela que é comum na vida musical do nosso tempo) e com a abertura suficiente para experimentar novos caminhos na interpretação.
O Midem Classic Award 2006 (devido à sua participação, juntamente com Leif Ove Andsnes e Hélène Grimaud, na gravação dos concertos de Bartók, sob a direcção de Boulez) é a mais recente distinção obtida pelo pianista ao longo de uma carreira brilhante que abrange um repertório amplo - de Bach a Lutoslawski -, e que entre outros destaques ficou marcada pela sua gravação dos Prelúdios de Debussy (distinguida com todos os grandes prémios da crítica internacional na temporada 1994-95) ou pelas suas notáveis interpretações de Chopin.
Nascido na Polónia em 1956, Krystian Zimerman cresceu numa família de grandes tradições musicais, tendo recebido as primeiras lições do seu pai. A prática da música de câmara era um exercício diário na sua casa onde se reuniam vários músicos. Aos sete anos começou a trabalhar com Andrzej Jasinski, professor no Conservatório de Katowice, e aos 18 anos (tal como Maurizio Pollini) vencia o primeiro prémio do Concurso Chopin de Varsóvia, que lhe abriu as portas dos grandes palcos internacionais.
O piano não é a única paixão de Zimerman, que é igualmente um excelente organista e director de orquestra. Também se dedica ao estudo da Psicologia e das Ciências da Informática. Nos últimos anos tem leccionado na Academia de Música de Basileia.

Krystian Zimerman (piano)
Obras de Mozart, Ravel e Chopin
PORTO Casa da Música (Sala Guilhermina Suggia). Tel. 220120220. Hoje, às 21h. Bilhetes a 15 euros.

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