Trabalhadores da ex-Sociedade de Porcelanas de Coimbra impediram retirada de material

PSP não interveio por se considerar incompetente para tomar partido num conflito laboral

Dezena e meia de pessoas, entre trabalhadores e sindicalistas, impediram ontem a saída de um furgão de caixa fechada das instalações da Santa Clara Cerâmicas, a antiga Sociedade de Porcelanas de Coimbra. Segundo os trabalhadores, que atravessaram automóveis à porta do único portão desta fábrica da Arregaça, o furgão começou a ser carregado às 10h00 com "madres", moldes de pratos, e outros materiais cuja retirada inviabilizaria a laboração.Os proprietários, que não compareceram no local, solicitaram a intervenção da PSP que se deslocou ao local e ali permaneceu, entre as 15h30 e as 17 horas, sem intervir. A PSP entendeu estar perante um conflito laboral que só o tribunal poderia resolver. Às 16h50, o furgão retrocedeu ao interior do recinto e o motorista abandonou o local. Os dirigentes sindicais presentes no local prometeram que os trabalhadores fariam turnos de vigilância, durante este fim-de-semana, por recearem que a administração - que o PÚBLICO tentou ouvir - voltasse a tentar retirar material da fábrica.
A meio da tarde, junto ao portão, Jorge Vicente, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Cerâmica, Cimento, Construção, Madeira, Mármores e Similares da Região Centro, protestava que esta era "a segunda ilegalidade" que a administração da empresa cometia no espaço de uma semana. Referia-se à tentativa de substituição dos trabalhadores da Santa Clara Cerâmicas, em greve, por sete empregados vindos de outra fábrica que os mesmos proprietários mantêm em São Mamede, Batalha. Chamada ao local pelos trabalhadores da unidade da Arregaça, representantes da Inspecção-Geral do Trabalho aconselharam os administradores a fazer regressar a São Mamede os sete funcionários com que tentaram substituir os grevistas.
Os trabalhadores da Santa Clara Cerâmicas deixaram de trabalhar a 12 de Dezembro, por terem sido nessa altura informados pela administração da empresa de que seriam deslocalizados para a fábrica de São Mamede até à conclusão das novas instalações que a empresa se comprometeu a construir em Coimbra, no parque industrial de Eiras. Este compromisso resulta, aliás, de um protocolo celebrado há dois anos com a Câmara de Coimbra, cujo presidente tem reiteradamente garantido que, nos termos do acordo, só permitirá o loteamento dos terrenos actualmente ocupados pela Santa Clara Cerâmicas quando a nova fábrica estiver a laborar, com os mesmos trabalhadores. Sucede que, desde então, a empresa conseguiu negociar a rescisão com 50 trabalhadores e o sindicato receia que tente fazer o mesmo com os últimos vinte, de modo a desobrigar-se, por circunstâncias supervenientes, do protocolo celebrado com a autarquia. O projecto de arquitectura da nova fábrica não foi apresentado em 2005, como previa o protocolo celebrado com a Câmara de Coimbra.

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