O abecedário de Berardo

A Colecção Berardo Século XX sobressai pelo número e importância das obras que a compõem



Mais de quatro mil obras. Só o número impressiona, mas se se percorrer a lista de nomes da Colecção Berardo Século XX percebe-se com clareza a importância de que esta se reveste para um contexto nacional onde escasseiam os acervos da arte produzida nos últimos cem anos. É, portanto, a partir de uma falha, um vazio institucional - o escasso investimento do Estado português em arte moderna e contemporânea -, que deve ser analisada a relevância do espólio reunido pelo comendador desde o início dos anos oitenta, ainda na África do Sul.
No site dedicado à sua colecção, Joe Berardo considera-a uma das prioridades da sua vida. E no site http://www.berardomodern.com, nota ter-se esforçado por adquirir "trabalhos que ilustrassem, pela sua qualidade, a imaginação criativa", sem aceitar "quaisquer limitações em termos de movimentos, técnicas ou nacionalidades". E acrescenta: "Nas últimas duas décadas, amigos, colaboradores, consultores e escritores ajudaram-me a coleccionar estas obras de arte moderna e contemporânea seguindo um critério rigoroso que permitisse compreender e acompanhar a arte, para assim concretizar um sonho Colecção Berardo Século XX que oferece uma vasta e deslumbrante interpretação do desenvolvimento da arte do Século XX".
A colecção inclui importantes acervos, nomeadamente dedicados ao surrealismo, à arte pop, à arte povera, à land art e ao minimalismo. Em termos do contexto nacional, ela inclui obras de muitos dos artistas centrais para uma compreensão do que foi o século XX: Amadeo, Álvaro Lapa, Ana Hatherly, Helena Almeida, Júlio Pomar, Maria José Aguiar, Joaquim Bravo, Julião Sarmento, Paula Rego, Joaquim Rodrigo, Pedro Cabrita Reis, Alberto Carneiro, António Areal, etc.
A Colecção Berardo Século XX sobressai, contudo, pelo impressionante conjunto de obras realizadas por nomes que figuram em qualquer dicionário de referência da arte do século passado, sendo este um dos motivos pelos quais os mais importantes museus do mundo solicitam regularmente o empréstimo de obras ao comendador. Só na letra A é possível encontrar, entre outros: Vito Acconci, Josef Albers, Carl Andre, Giovanni Anselmo, Arman, Hans Arp, Art & Language e Richard Artschwager. E também não é possível esquecer os três Picassos, os vários Warhol ou o Francis Bacon...
Brillo Box (1964-68)
Andy Warhol
Segundo o crítico de arte Arthur C. Danto, a Brillo Box encerrou a trajectória estabelecida da arte ocidental, dando lugar a "um pluralismo que mudou a forma como a arte é feita, recebida e exibida". A colecção Berardo possui vários exemplares desta obra que reproduz artificialmente um objecto de consumo popular.

Boîte-en-Valise (Série C) (1958)
Marcel Duchamp
Em 1936, Marcel Duchamp inicia o projecto de um museu portátil, no qual incluiria miniaturas das suas obras mais importantes. A primeira das caixas, terminada em 1941, foi adquirida por Peggy Guggenheim. A da colecção Berardo inclui 68 ítems.

Retrato de
V. Maiakovski (1924)
Aleksandr Rodchenko
A colecção Berardo inclui um importante núcleo de fotografia, de que é exemplo este retrato do poeta russo Vladimir Maiakovski realizado por um dos expoentes do movimento construtivista.
Portrait de Femme
en Robe Bleue (1935)
Balthus
Esta pintura de Balthus foi realizada um ano após a sua primeira exposição individidual, na Galerie Pierre, Paris. No trabalho, um retrato de corpo inteiro, pode observar-se uma das características centrais da sua obra: essa espécie de suspensão temporal que envolve os personagens representados, deixando-os assim prisioneiros do olhar do espectador.
Oedipus and the Sphinx after Ingres (1983)
Francis Bacon
É uma das obras maiores do pintor inglês, realizada a partir do quadro de Jean-Auguste-Dominique Ingres (1826-1827), patente na National Gallery, em Londres. Tal como era seu hábito, Francis Bacon adaptou livremente os temas desta tragédia clássica contada quer por Ésquilo, quer por Sófocles.
Torsione (1968)
Giovanni Anselmo
O artista italiano é um dos nomes maiores da arte
povera, um dos movimentos centrais da arte do século XX, da qual a Colecção Berardo possui um importante núcleo. Esta torção fabrica um movimento, uma força, que cria a necessária tensão para a intensidade desta obra.
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