Governo garante que Colecção Berardo fica em Portugal

A hipótese mais provável será o Centro Cultural de Belém. Ministério
da Cultura quer
criar Museu Nacional
de Arte Contemporânea com o acervo

O primeiro-ministro, José Sócrates, garantiu na quarta-feira ao empresário Joe Berardo que a sua colecção de arte moderna fica em Portugal, disse ontem ao PÚBLICO o comendador. Numa reunião onde também esteve a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, estabeleceu-se um pré-acordo para a colecção "ficar no Centro Cultural de Belém", especificou o assessor da ministra. "A ideia é criar um museu nacional de arte contemporânea que terá como base a Colecção Berardo", acrescentou.
Segundo Berardo, na reunião definiu-se que, até 15 de Fevereiro, estariam resolvidas as questões legais que envolvem as negociações com o Estado. Nos últimos meses, Berardo disse que a sua colecção sairia do país se, até ao fim do ano, o Governo não assumisse o compromisso de a expor num espaço relevante cedido pelo Estado.
A Colecção Berardo tem cerca de quatro mil obras, disse o comendador, que abrangem artistas importantes do século XX e está dividida por vários espaços como alguns armazéns e o Museu de Arte Moderna de Sintra. O seu objectivo é que as obras "rodem", tanto pelo futuro espaço e pelo Museu de Sintra como por instituições internacionais. O comendador quer, aliás, manter o protocolo com a Câmara Municipal de Sintra e a própria directora do museu, Maria Nobre Franco, disse que a colecção "vai continuar a ter um núcleo" ali. O presidente da autarquia, Fernando Seara, "já anunciou que o acordo de 1997 vai ser renovado", em 2007, para que uma parte da colecção continue ali em exposição.
Apesar de não confirmar para onde iria a sua colecção, Berardo não descartou a hipótese de ela ficar no CCB, onde estão depositadas muitas das obras. "Há alternativas", acrescentou, como o Museu de Arte Popular, actualmente encerrado. O Pavilhão de Portugal, desenhado por Siza Vieira, também tem sido apontado como possibilidade.
"O primeiro-ministro foi muito claro na sua intenção, que coincide com a minha", afirmou Berardo, que, em Outubro, disse ter sido convidado pelos ministros da Cultura e dos Negócios Estrangeiros franceses para levar a sua colecção para a França e tinha ameaçado várias vezes tirá-la de Portugal.
Ontem, Alexandre Melo, assessor para a Cultura de José Sócrates, confirmou apenas a reunião, que "correu extremamente bem, num ambiente de grande cordialidade". "Parece-me que as coisas estão encaminhadas para uma boa negociação. Houve uma larga margem de entendimento entre todos."
Margarida Veiga, administradora com o pelouro cultural do CCB, admitiu que existem negociações. "Gostaria que a colecção ficasse no CCB, mas não posso dizer mais do que isso." Sobre as condições de um eventual acordo, Veiga disse que teria que ser "muito bem negociado" e, a ficar, seria "para fazer um trabalho ao nível educativo muito profundo". A nível financeiro, adiantou, a "ideia é que haja um acordo entre as várias entidades, de modo a que se chegue a um orçamento razoável para que se possa fazer este trabalho".
A discussão sobre o destino da Colecção Berardo arrasta-se há cerca de dois anos. Segundo o comendador, as primeiras conversas sobre a hipótese de este espólio passar a ser exposto de forma permanente no CCB começaram em 1996, quando Manuel Maria Carrilho era ministro da Cultura. com Luís Filipe Sebastião

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