Munich, de Steven Spielberg, acusado de ser pró-palestiniano

Os israelitas dizem que o filme conta os atentados de Munique pelo ângulo das represálias da Mossad aos palestinianos

Com estreia marcada nos Estados Unidos para 23 de Dezembro (só chega a Portugal em Fevereiro ), o novo filme de Steven Spielberg já está a provocar polémica junto da comunidade judaica, que o considera pró-palestiniano. A acção de Munich acompanha a acção dos serviços secretos israelitas, a Mossad, sobre os cinco membros do comando palestiniano Setembro Negro, que durante os Jogos Olímpicos de Munique (Alemanha), em 1972 sequestraram e mataram 11 atletas israelitas.O cônsul-geral de Israel em Los Angeles, Ehud Danoch, classificou, em declarações a uma rádio israelita, o filme como "superficial", "pretensioso" e "problemático", acusando o realizador de equiparar os agentes da Mossad aos terroristas palestinianos.
Também Jack Engelhard, autor do conhecido romance Proposta Indecente (que originou o filme), criticou Munich no website ynetnews.com: "Se como os nossos inimigos dizem, nós [judeus] fôssemos donos de Hollywood, aqui está a prova em contrário - nós perdemos Hollywood, nós perdemos Spielberg. Spielberg não é amigo de Israel, Spielberg não é amigo da verdade."
Toda esta polémica está a desapontar o realizador de A Lista de Schindler (onde um alemão salva da morte milhares de judeus), cujos pais são judeus e que na última semana afirmou à revista Time que o filme era uma "oração à liberdade", acrescentando que a grande ameaça para o Médio Oriente não são os palestinianos ou os israelitas mas, sim, a intransigência de ambos os lados. "Eu sou a favor de Israel responder em força, quando é ameaçado, mas, ao mesmo tempo, a resposta à resposta não resolve nada."
Para Munich, o argumentista Tony Kushner baseou-se no livro Vengeance: The True Story of an Israeli Counter-Terrorist Team, do jornalista canadiano George Jonas, uma escolha que também já mereceu críticas, até porque oficialmente o Governo israelita nunca reconheceu responsabilidades no assassinato dos cinco palestinianos do Setembro Negro.
David Kimche, agente da Mossad nos anos 70, considera "uma tragédia uma pessoa da estatura de Steven Spielberg basear o seu filme num livro que é uma mentira". "Na altura, como agora, [as nossas acções] não tinham nada a ver com vingança. Eu fiz tudo para prevenir ataques terroristas sobre pessoas inocentes", disse Kimche à agência Reuters.
Apesar destas questões, Munich já foi considerado pelo American Film Institue como uma das dez melhores longas-metragens de 2005 e Spielberg está nomeado para o Globo de Ouro de realização.

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