Guerra aberta no Patriarcado cristão de Jerusalém

Theophilos III foi ontem sagrado, depois de o seu antecessor ter sido destituído, por ter vendido edifícios da Igreja a financeiros judeus.
O Governo israelita considera ilegal a substituição

Theophilos III foi ontem entronizado na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, como 140º patriarca da Igreja Grega Ortodoxa na Terra Santa, chefe de uma comunidade de 100 mil fiéis. Esteve presente o Presidente da Grécia, Carolos Papoulias, mas o Governo israelita ainda não reconheceu Theophilos e tentou impedir a sua sagração. Em contrapartida, a Jordânia e os palestinianos aprovam o novo patriarca.Theophilos foi eleito por unanimidade pelo Santo Sínodo da Igreja Grega Ortodoxa, depois de o seu antecessor, Irineos I, ter sido destituído pelo Sínodo, a 24 de Maio, sob a acusação de ter vendido secretamente a homens de negócios judeus propriedades da Igreja, o que suscitou a cólera dos cristãos palestinianos.
Irineos foi "degradado" para a condição de monge, mas recusa-se a aceitar a destituição, declarando desconhecer a operação, e continua a ocupar o paço patriarcal.
Theophilos, 53 anos, nascido na Grécia, chegou à Terra Santa em 1964 para aí fazer os seus estudos teológicos. Ordenado sacerdote em 1970, depois bispo, tornou-se secretário-geral do Santo Sínodo.
A cerimónia teve lugar junto do Santo Sepulcro, constituindo um desafio ao Governo israelita, que apoia o antigo patriarca e tentou evitar a sua substituição. O ministro Tzachi Hanegbi, encarregado dos assuntos religiosos, advertiu no mês passado a Igreja Grega contra a entronização de Theophilos. "O Estado opõe-se à cerimónia, que visa validar a destituição do patriarca Irineos, um acto que não foi reconhecido pelo Estado de Israel, como a lei exige", declarou então ao diário Ha"aretz.
O Patriarcado reagiu duramente considerando que a atitude de Hanegbi "é uma inadmissível interferência na sua autonomia enquanto comunidade religiosa e na liberdade religiosa dos membros da congregação grega ortodoxa".

EscândalosA crise estalou em Abril quando jornais israelitas revelaram, com documentos, que Irineos vendera secretamente dois hotéis, Imperial e Petra, junto da Porta de Jaffa, a "homens de negócios judeus". A Igreja é proprietária de um quinto dos imóveis da Cidade Velha. Para os palestinianos, a venda de terras e prédios na Jerusalém árabo-cristã faz parte do projecto de "judaização" da cidade.
Já nos anos 1990, antes do mandato de Irineos, o Patriarcado fizera vendas a colonos israelitas, através de empresas estrangeiras, com a conivência do Ministério da Habitação, então dirigido por David Levy.
A situação de Irineos foi fragilizada em 2004, quando um tribunal israelita pôs em causa o seu reconhecimento por Israel - que inicialmente o ignorou por o considerar aliado de Arafat -, dando como provado que a sua eleição fora apoiada por um traficante de heroína grego, Apostolos Vavilis, que teria financiado uma campanha de difamação dos seus concorrentes, acusando-os de homossexualidade e tráfico de antiguidades. Houve também um escândalo de desvio de fundos pelo director financeiro do Patriarcado. J.A.F.

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