Tratamento das leucemias em Portugal é de nível mundial

Este foi o campo da oncologia em que mais se progrediu, diz o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Hematologia

Nos centros de referência portugueses para o tratamento de leucemia fazem-se actualmente as mesmas opções terapêuticas que em qualquer centro de referência do mundo, garante o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH), José Eduardo Guimarães. Isto significa que as pessoas têm em Portugal direito ao melhor tratamento possível, apesar dos elevados custos.Para além da quimioterapia, que continua a ser o método mais utilizado, de há dez anos para cá surgiu "uma panóplia de novos agentes, instrumentos de guerra cirúrgica mais dirigidos" que atacam selectivamente as células cancerosas, explicou o hematologista ao PÚBLICO, à margem da reunião anual da SPH, em Espinho, onde até hoje está a ser debatido o estado da arte em várias terapêuticas e a experiência de alguns centros hospitalares. "Este foi o campo da oncologia em que mais se progrediu", frisou.
Estima-se que as leucemias, cancros das células sanguíneas, afectem entre 600 a mil portugueses todos os anos. Mas, graças às novas terapêuticas e tratamentos, que incluem os transplantes de medula óssea em determinados casos (cerca de 250 por ano entre nós), a ideia feita de que ter uma leucemia equivale a uma sentença de morte deixou de fazer sentido. Ainda que a doença continue a ser "muito grave", "mesmo em leucemias agudas conseguem-se [hoje] percentagens de cura da ordem dos 40 por cento e , em certas formas da doença, a percentagem do sucesso pode chegar aos 80 por cento", nota o hematologista, que é presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João, um dos centros de referência onde em cada ano surgem 70 a 80 novos casos da leucemia aguda.
Na leucemia, a produção de glóbulos brancos fica descontrolada. O funcionamento da medula óssea saudável torna-se cada vez mais difícil, diminuindo progressivamente a produção de células normais, o que conduz ao aparecimento de anemia, infecções e hemorragias.
Há vários tipos de leucemias, tendo em conta o tipo de células afectadas. E estas podem ser agudas ou crónicas, dependendo da velocidade da proliferação das células leucémicas. A leucemia aguda linfoblástica é mais frequente nas crianças e jovens, enquanto a leucemia aguda mieloblástica é mais comum nos adultos. Na primeira, com quimioterapia, hoje as taxas de sobrevivência atingem os 70 a 80 por cento, diz o vice-presidente da SPH.
Na leucemia linfóide crónica os doentes ficam por vezes cinco a seis anos numa situação em que não faz sentido iniciar a quimioterapia. Já na mielóide crónica, o desenvolvimento é mais rápido. Como existe o risco em quase 100 por cento dos casos de evoluir para uma situação de leucemia aguda e não é possível prever quando isso vai acontecer, nos últimos anos surgiram fármacos que retardam a progressão da doença e um medicamento especificamente dirigido ao problema que a origina, uma anomalia num cromossoma.
Normalmente, os sintomas iniciais da doença são fadiga, perda de peso, palidez, infecções e hemorragias.

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