Governo de Carlos Gomes Júnior demitido em Bissau

Decisão do Presidente Nino. Forças Armadas em grave crise. Evoca-se risco de nova guerra civil, como a de 1998-1999

O Presidente da República da Guiné-Bissau, João Bernardo (Nino) Vieira, demitiu na sexta-feira à noite o Governo de Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC, vencedor das legislativas de Maio do ano passado. Confirmou-se assim não ser possível diminuir as tensões político-militares que há mais de um mês eram visíveis no país.Nino Vieira, que tomou posse em 1 de Outubro, depois de já ter chefiado o Estado de 1980 a 1999, alegou a "crispação das relações" entre os órgãos de soberania para o afastamento de um primeiro-ministro que com ele se incompatibilizara e que apoiara outro candidato à Presidência, Malam Bacai Sanhá. O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) tem agora, constitucionalmente, a hipótese de submeter outros três nomes para chefia do Estado e escolher um novo primeiro-ministro. Se não aceitar nenhum deles poderá então dissolver a Assembleia e marcar eleições legislativas antecipadas.
O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Baptista Tagme Na Waie, dissera no dia 19 que alguns oficiais do Exército estariam a preparar uma rebelião, em colaboração com o Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC), que luta pela independência desta região do Senegal, fronteiriça com a Guiné-Bissau. Na Waie citou, entre os alegados conspiradores, o general Bitchofela Na Fafé, ex-presidente do Comité Militar para a Restauração da Ordem Constitucional e Democrática na Guiné-Bissau. Disse que havia o risco de uma nova guerra civil, como a que de Junho de 1998 a Maio de 1999 opôs a Nino Vieira um grupo de oficiais dirigidos pelo brigadeiro Ansumane Mané.
Dezenas de militares armados guardavam ontem os principais edifícios de Bissau, incluindo a Presidência da República, dadas as notícias das últimas semanas segundo as quais uma parte dos militares estaria com Malam Bacai Sanhá, que contestou a vitória eleitoral de Nino. Carlos Gomes Júnior, que se encontrava impedido de entrar no seu gabinete, disse tar perante um "golpe de Estado constitucional", ocorrido algumas semanas depois de 14 deputados do PAIGC terem abandonado esta formação, passando a constituir um grupo independente que se juntou à oposição.
Entretanto, principiou uma reunião da Comissão Permanente daquele partido, que se depara agora com um Fórum da Convergência para o Desenvolvimento (FCD), constituído por todas as forças que na presente conjuntura se encontram a apoiar Nino. O FCD é coordenado pelo antigo primeiro-ministro Francisco José Fadul, líder do Partido Unido Social-Democrata, que tal como o Partido da Renovação Social, de Kumba Ialá, ajudou a derrotar Malam Bacai Sanhá. Carlos Gomes Júnior apresentara terça-feira na Assembleia uma moção de confiança, mas já não houve tempo para a debater.

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