Pen Clube atribui vários prémios exaequo

O júri atribuiu prémios na área de ficção, ensaio e poesia. O prémio de primeira obra foi para Pedro Canais, com A Lenda de Martim Regos

Os Prémios do Pen Clube Português para obras editadas em 2004 distinguiram ontem sete autores: Ana Marques Gastão e Luís Quintais na poesia, José Gil e José Tolentino Mendonça no ensaio, Ana Teresa Pereira e Rui Zink na ficção e Pedro Canais no prémio de primeira obra com A Lenda de Martim Regos. Em vez de uma obra o júri escolheu duas nas áreas da ficção, ensaio e poesia. Esta é terceira vez desde a sua fundação, em 1980, que o Pen atribuiu simultaneamente prémios exaequo nas três áreas principais.
Na poesia, o prémio foi para Nós/Nudos, de Ana Marques Gastão, editado pela Gótica, e Duelo, de Luís Quintais, editado pela Cotovia. No ensaio, os prémios foram para Portugal Hoje, o Medo de Existir, de José Gil (Relógio d"Água) e A Construção de Jesus, de José Tolentino de Mendonça (Assírio & Alvim). O prémio de ficção foi para Se nos encontrarmos de novo, de Ana Teresa Pereira (Relógio d"Água) e Dávida Divina (Dom Quixote), de Rui Zink.
Martim Regos,
um português aventureiro
Publicado pela Oficina do Livro, A Lenda de Martim Regos é a primeira obra de Pedro Canais (n. 1962), actualmente copywriter na SIC depois de um curso de História e da passagem pela publicidade como criativo. Passada nos séculos XV e XVI, relata a história de um português aventureiro, Martim Regos, que "percorre os quatro cantos do mundo", diz Manuel Frias Martins, um dos membros do júri. Nesta área, o júri (que pode escolher uma primeira obra de qualquer área) foi ainda composto pela direcção do PEN (Ana Hatherly, Alice Branco, Teresa Cadete e Casimiro de Brito).
"É uma escrita sob a forma de relato histórico, mimetizando algumas formas estilísticas do século XV e XVI sem cair no aborrecido. Com um fundo de investigação histórica consegue construir um livro compacto, sério, que é divertido", acrescentou Frias Martins.
Segundo Ana Hatherly, presidente do júri na área de poesia, a escolha das duas obras deveu-se "à dificuldade dos júris escolherem apenas uma". "Considerámos que eram dois livros de alta qualidade", disse, sem querer adiantar justificações sobre as escolhas. Fernando J.B. Martinho e Manuel Simões completaram o júri nesta área.
Nós/Nudos é composto por 25 poemas sobre 25 pinturas de Paula Rego. Ana Marques Gastão é poeta, crítica literária e jornalista cultural do Diário de Notícias e escreveu, entre outros, Terra sem Mãe (2000) e Nocturnos (2002). Luís Quintais, também antropólogo social e professor na Universidade de Coimbra, é autor de A Imprecisa Melancolia (1995), Lamento (1999) ou Verso Antigo (2000).
O júri do prémio de ficção, constituído por Manuel Frias Martins, Francisco Bélard e Helena Barbas, escolheu as obras de Ana Teresa Pereira e de Rui Zink por considerar que seria "injusto perante dois autores com obras tão extensas e originais" preterir um em favor do outro, disse o presidente Manuel Frias Martins.
Sobre Se nos encontrarmos de novo, de Ana Teresa Pereira - que nasceu e vive no Funchal e é autora de uma obra marcada pela atmosfera de suspense -, Frias Martins disse que "joga com uma imaginação entre o gótico e a subtil fuga à realidade, uma oscilação muito curiosa".
Com Dávida Divina, Rui Zink - autor de dezenas de obras de ficção, contos, ensaio, peças de teatro marcadas pela ironia - criou uma obra "muita intensa de uma espécie de filosofia de um crente descrente", acrescentou Frias Martins. "Joga com a ironia, mitos e imaginários contemporâneos."
Com o prémio para Portugal Hoje, o Medo de Existir o júri "consagra a qualidade" de uma obra que conseguiu a popularidade e se tornou um best-seller, diz Teresa Salema.
Como A Construção de Jesus, Portugal... é um ensaio criado "de raiz" e foi escolhido pela "sua originalidade". "É uma pedrada no charco em relação à atitude auto-complacente que é a forma de postura maníaco-depressiva de Portugal", justifica a presidente do júri, composto ainda por Luis Fagundes Duarte e José Nobre da Silveira.
Quanto ao ensaio do também poeta José Tolentino Mendonça, Teresa Salema diz ser "uma muito interessante visão hermenêutica de um tema que tem sido abastardado por uma série de "best-sellers"", como O Código Da Vinci e sucedâneos. "A obra, que é uma tese de doutoramento, reconduz a figura de Jesus Cristo ao registo de seriedade".
Os prémios do Pen Clube são patrocinados pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e, segundo o regulamento, um autor não pode receber o prémio se foi distinguido em algum dos cinco anos anteriores. Os prémios são de cinco mil euros para cada área (que será repartido entre os dois autores escolhidos) e de 2500 para a primeira obra. No ano passado foram distinguidos Mário de Carvalho (ficção), Ana Paula Coutinho Mendes e Clara Rocha (ensaio), João Miguel Fernandes Jorge e José Agostinho Baptista (poesia) e Alexandre Nave (primeira obra).

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