Sete espadas enferrujadas

É a primeira vez em muitos anos que um dos revolucionários do cinema de acção feito em Hong Kong nos anos 80 vê um filme seu estreado em sala em Portugal - é, mesmo, a primeira vez que Tsui Hark tem uma das suas produções de Hong Kong exibida nos écrãs nacionais, já que antes só os seus dois filmes hollywoodianos com Jean-Claude van Damme, "Duplo Team" (1997) e "Embate" (1998), haviam chegado às salas, apesar de vários títulos seus (sobretudo mais recentes, como o fulgurante "Time and Tide", de 2000) terem sido lançados no mercado de vídeo.

Só isso já justifica o interesse por "Sete Espadas"; primeiro porque, a par de John Woo, Tsui Hark é um dos nomes-chave do cinema de Hong Kong da década de 80, quer como realizador de filmes populares de uma modernidade e sofisticação de tom inabitual até aí, quer como produtor de peso através da companhia Film Workshop, que fundou com a esposa Nansun Shi e onde Woo ou Ching Siu Tung realizaram alguns dos seus filmes-chave (pense-se em "The Killer" ou "A Chinese Ghost Story"). Depois, porque esta adaptação de um romance popular se inscreve numa linhagem de revisionismo do cinema de artes marciais oriental conhecido por "wuxia" onde o realizador obteve alguns dos seus maiores sucessos, como as séries de filmes "Once Upon a Time in China" e "Zu".

Estes pergaminhos todos, contudo, apenas aumentam a decepção de "Sete Espadas", obra claramente menor, "wuxia" de prestígio e produção luxuosa com um elenco de vedetas locais que sucumbe a uma ambição talvez excessiva (fala-se de uma série televisiva e de uma expansão multimedia do projecto) e onde só a espaços se reencontra a energia dos melhores momentos de Tsui Hark. É a história de sete magníficos guerreiros que descem do seu retiro espiritual no monte Tian para salvar uma aldeia do exército de um general ganancioso (não ouvimos já isto em qualquer lado?), com um triângulo amoroso pelo meio. Mas o que deveria e poderia ser uma aventura contagiante revela-se um épico mortiço, moroso, sem sentido de ritmo - o primeiro terço do filme é virtualmente incompreensível, atirando personagens para a história sem um mínimo de contextualização ou sequer explicação, recordando os bons velhos tempos em que as fitas de artes marciais exibidas no Eden ou no Roxy surgiam em versões truncadas e dobradas em inglês onde apenas as sequências de acção contavam (muito embora estejamos aqui a ver a versão original de um épico com duas horas e meia...). Só no magnífico combate final se consegue redimir parcialmente a confusão que ficara para trás e sentir alguma da velha magia cinética do realizador, insuficiente para afastar a ideia de que "Sete Espadas" é uma tentativa algo forçada de fazer um novo "Herói". Infelizmente, dentro da reinvenção do "wuxia", "O Tigre e o Dragão" continua imbatível - e Tsui Hark parece apostado em dar razão àqueles que, em plenos anos 80, já lhe chamavam vendido.

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