Edição de Astérix, o Gaulês em mirandês já está esgotada

Obra esgotou em apenas 15 dias. Tradutor gostaria que o livro servisse como instrumento para o ensino do mirandês
nas escolas

A primeira edição de Astérix, o Gaulês, traduzida em língua mirandesa esgotou muito rapidamente. "A procura excedeu todas as nossas expectativas, pela receptividade e interesse que as pessoas têm demonstrado e porque há um dado objectivo muito importante - em menos de 15 dias, esgotaram todos os exemplares", confirmou ao PÚBLICO Amadeu Ferreira, o responsável pela tradução da obra de René Goscinny e Albert Uderzo para a segunda língua oficial portuguesa (o mirandês), com cerca de 10 mil falantes. "Nunca um livro escrito em mirandês tinha tido tanta procura", acrescentou.A publicação desta aventura em mirandês é da responsabilidade das Edições ASA, que, esgotados os primeiros quatro mil exemplares, se prepara para fazer uma segunda publicação de mais 1500 exemplares. Com esta segunda edição, o tradutor espera também um segundo lançamento, não em Lisboa, como aconteceu no passado dia 15 de Setembro, mas em Miranda do Douro, "e junto das crianças das escolas do concelho, porque esta obra é-lhes especialmente dedicada", refere.
Apesar de já existirem algumas dezenas de publicações de obras literárias em língua mirandesa, ainda existem poucos livros para crianças. Amadeu Ferreira admite que gostaria de ver esta obra utilizada no ensino da língua mirandesa. "Não vejo nenhum inconveniente. A linguagem é de qualidade reconhecida, à aventura estão associados aspectos históricos formativos para as crianças, e valores como a amizade e a solidariedade são extremamente importantes", argumenta.
O livro Asterix, L gaulês (título em mirandês) não é uma simples adaptação do texto, originalmente francês, para a língua mirandesa. O tradutor e os seus colaboradores (Domingos Raposo e Carlos Ferreira) adaptaram todo o contexto da aventura do pequeno gaulês à realidade mirandesa, inclusive o nome das personagens, com excepção dos personagens principais. "Por exemplo, no caso do chefe da tribo dos gauleses, nós demos-lhe o nome de Regidorix, que vem de regedor, o homem que mandava lá na aldeia. Ao bardo chamamos Cantadorix, por andar sempre a cantar", exemplifica. De igual forma foram adaptadas, ao contexto local, algumas onomatopeias: "Essa foi a parte mais complicada, porque tivemos de auscultar o som das coisas, uma pedra que cai, um martelo a bater numa bigorna, um grito", explica. O latir de um cão, por exemplo, que, em português, se identifica como "béu béu", em mirandês foi reproduzido como "gau gau". Uma adaptação que torna a história de 42 páginas única, apesar de a mesma aventura já estar traduzida em 110 línguas.
Antes do lançamento da obra, Amadeu Ferreira manifestou o desejo de traduzir "pelo menos uma ventura do Astérix por ano". Face ao sucesso da primeira edição, o tradutor acredita que essa "é uma expectativa fundada", manifestando a sua disponibilidade para continuar este trabalho, ressalvando que a palavra final "é da editora".

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