Dresden A cidade da reconciliação

A capital da Saxónia é uma cidade cheia de contrastes visuais.
E das mais dinâmicas economicamente de todo o Leste alemão

Na noite de 13 para 14 de Fevereiro de 1945, bombas aliadas, lançadas pelos bombardeiros britânicos Lancaster e Mosquito, abateram-se impiedosamente sobre o céu de Dresden, no Leste alemão, uma das mais belas cidades europeias. Em escassas horas, num impedioso mar de chamas, morreram pelo menos 35 mil pessoas e o património cultural da cidade ficou reduzido a escombros. Os tradicionais alvos militares, como casernas e pontes de linhas férreas, ficaram intactos. A operação, comandada por Sir Arthur Harris, tornou-se um símbolo da magnitude destrutiva da guerra moderna. Foi o mais severo bombardeamento de uma cidade europeia durante toda a Segunda Guerra.
Dresden, a capital da Saxónia, é hoje, sessenta anos decorridos sobre o final da Segunda Guerra e quinze sobre a reunificação alemã, uma cidade avassaladora, cheia de contrastes visuais. Quem chega à cidade de comboio e desce na Hauptbahnhof depara-se com o pior da moderna Dresden: a Prager Strasse, que conduz à zona antiga. Na Prager Strasse, a rua onde em Outubro de 1989 se congregaram massas na esperança de conseguir lugar nos comboios especiais disponibilizados pela Alemanha Ocidental para os alemães de Leste que procurassem asilo da Embaixada da RFA em Praga, a monotonia da arquitectura estalinista foi suavizada por toques de cor: canteiros floridos, esculturas e neons de lojas, hotéis e restaurantes. Os três "caixotes" idênticos, estilo RDA, no começo da artéria, são agora três hotéis, gémeos, de uma cadeia internacional.
A majestade arquitectónica do centro histórico, que valeram a Dresden os cognomes de Florença do Elba ou pequena Paris, com o palácio renascentista Residenzschloss, a Frauenkirche, a catedral Hofkirche, e a glória do barroco de Dresden o Zwinger, apagam da memória em segundos os horrores de betão socialistas.
É difícil destacar apenas um destes monumentos excepcionais. Não se corre todavia o risco do subjectivismo ao dizer-se que a Frauenkirche capta a essência de Dresden. Reconstruída de 1994 até 2005, passou de "ferida aberta", evocando os horrores da guerra, a "cicatriz sarada", que mantém viva a História, mas é testemunho de reconciliação e esperança. Será abençoada a 30 de Outubro deste ano.
A orbe encimada por uma cruz dourada de 4,7 metros de altura e duas toneladas de peso, uma réplica da que coroava a igreja antes do raide aéreo de 1945, é uma oferta do povo britânico. Um dos artífices que participou na execução da cruz, Alan Smith, tem uma ligação emocional particular com a insígnia: Smith é filho de um piloto britânico do 57° Esquadrão que participou no bombardeamento de Dresden.
Antes de ser entregue a peça esteve exposta no castelo de Windsor e fez um périplo por várias cidades inglesas afectadas por bombardeamentos alemães, entre elas Coventry, geminada com Dresden.
Durante o regime da Alemanha democrática, Dresden ficou conhecida como o "vale dos ignorantes" porque era das poucas cidades a não apanhar o sinal da televisão da Alemanha Federal, visto clandestinamente no "paraíso do trabalhadores". Quinze anos mais tarde, a pacata cidade de 480 mil habitantes é uma das raras "paisagens floridas" no Leste alemão e das mais dinâmicas economicamente.

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