Árvores do Porto Média de idade é de 20 anos
Ambientalistas, autarquia e cidadãos vigiam o arvoredo que sobrevive nos espaços públicos. Nos últimos quatro anos, 678 árvores foram abatidas e 371 transplantadas. Em compensação, foram plantados 7533 novos espécimes.
Já reparou que existem laranjeiras na Rua Gonçalo Cristóvão? Já admirou a altura da fabulosa Ginkgo das Virtudes? Alguma vez contemplou as cores do jacarandá do Largo do Viriato? E quantas vezes saboreou a sombra de uma qualquer árvore no Porto? É improvável que o precioso arvoredo da cidade passe despercebido. No entanto, nos últimos anos, as obras de requalificação urbana, quer do Porto 2001 quer da Metro do Porto, têm derrubado alguns troncos na cidade que, na maioria dos casos, têm sido substituídos por exemplares mais jovens. A média de idade das árvores no Porto ronda agora os 20 anos.Rui Sá, vereador do Ambiente, garante que nos últimos quatro anos foram plantadas bastantes mais árvores do que as desaparecidas, por doença ou devido a obras. Os números fornecidos pelos responsáveis da Divisão de Jardins confirmam a garantia do autarca: 678 árvores foram abatidas, 371 transplantadas e 7533 novos exemplares plantados, entre 2001 e 2005. O problema para alguns é precisamente esse. É que não só os exemplares são novos porque são recém-chegados às ruas do Porto mas também jovens e, por isso, pequenos. Há mais árvores no Porto mas também há menos sombras.
Nuno Quental, da associação de defesa do ambiente Campo Aberto, lamenta precisamente a perda da cidade com o desaparecimento de árvores de grande porte. Reconhecendo que nalguns locais foram plantados novos exemplares, Quental alerta para o facto de hoje se realizaram muitas obras na via pública que "sistematicamente sacrificam as árvores que existem no caminho". Paulo Araújo, um matemático assumidamente apaixonado por árvores e co-autor do livro recém-editado pela Campo Aberto "À sombra de árvores com história", acrescenta que actualmente se corre o risco da "banalização" da perda de árvores em benefício de uma empreitada. "As árvores são arrancadas ou abatidas ao menor pretexto, sem hesitação. Isso está-se a tornar algo banal. Aqui há uns anos não se imaginava que uma rua arborizada fosse despida", afirma.
Um dos casos exemplares, no pior sentido, para Paulo Araújo está à vista na Avenida da Boavista, onde algumas tílias de quase 20 anos foram substituídas por jovens plátanos: "A espécie não é a mais indicada para o local à beira-mar e as caldeiras são minúsculas, com metade do tamanho que deviam ter para garantir um crescimento normal daquelas árvores e das suas raízes". Araújo revela que chegou a ponderar a hipótese de fazer uma lista das árvores perdidas com as obras de requalificação urbana; no entanto, diz ter desistido da ideia quando imaginou a deprimente "notícia necrológica". Com as moradas exactas de muitas árvores da cidade na ponta da língua - algumas são verdadeiras "heroínas" no livro que ajudou a fazer -, Paulo Araújo admite, porém, que, apesar de algumas importantes perdas, "tem-se verificado o cuidado de substituir as árvores".
As árvores
não são insufláveis
"As árvores não são insufláveis. Tem de ser dado tempo para que elas cresçam. Elas são um ser vivo com um ritmo próprio. Repare-se na Praça da Batalha, estão ali árvores que dentro de 10 ou 20 anos vão ficar lindíssimas", avisa Isabel Lufinha, engenheira florestal que coordena a equipa de intervenção da autarquia e que participou na elaboração do inventário das árvores do Porto (ver caixa). Insistindo na necessidade de uma gestão deste património vivo, a engenheira realça os benefícios ambientais de uma árvore mas também o papel psicológico pela sensação de "serenidade" que nos garante. "Ninguém vai para a VCI relaxar", nota. Quanto ao futuro, Isabel Lufinha garante que a floresta urbana do Porto vai crescer mas que deve ser feito um planeamento cuidadoso. "Temos de começar a repensar, por exemplo, o uso de árvores com grande necessidade de água", aponta, salientando também "a óptima tendência nas novas plantações para a escolha de espécies autóctones".
Por outro lado, consciente do efeito que as intervenções de requalificação urbana têm no espaço público e, sobretudo, nas zonas verdes, Rui Sá não nega o prejuízo para a cidade. Assim, o autarca nota que a "mineralização da Porto 2001" varreu algumas árvores e o