Morreu o arquitecto Fernando Távora

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A remodelação do Museu Soares dos Reis é uma das suas intervenções mais célebres DR

Fernando Távora, decano dos arquitectos portugueses e fundador da Escola do Porto, faleceu esta manhã no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, aos 82 anos de idade.

De acordo com a Lusa, o arquitecto estava internado há dois dias naquele hospital devido a complicações do seu estado de saúde. O corpo de Fernando Távora foi já transferido para Guimarães, encontrando-se em câmara ardente na capela da casa de família.

Além de inúmeras obras de raiz, o arquitecto assinou diversos projectos de remodelação, com destaque para o Palácio do Freixo e o Museu Soares dos Reis, tendo sido pioneiro na recuperação do centro histórico de Guimarães, hoje Património da Humanidade.

Para além da obra física, Fernando Távora destacou-se como pedagogo, tendo influenciado uma nova geração de arquitectos, como Álvaro Siza Vieira ou Souto Moura, lançando as bases da Escola do Porto, uma das mais influentes correntes da arquitectura moderna portuguesa.

O diálogo entre a tradição e modernidade

Fernando Luís Cardoso Meneses de Tavares nasceu no Porto a 25 de Agosto de 1923, no seio de uma família da burguesia local. Em 1952, licencia-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, vindo a ser mais tarde convidado para integrar o inovador corpo docente da instituição, então dirigida por Carlos Ramos.

Os seus alunos nas Belas Artes e mais tarde na Faculdade de Arquitectura recordam as aulas leccionadas numa atmosfera informal, em que a arquitectura surgia como tema central numa discussão sem fronteiras ou dogmas.

Como arquitecto, Fernando Távora é um dos primeiros a lançar as bases do modernismo em Portugal, mas rapidamente compreende a necessidade de integrar os valores da arquitectura local e tradicional na construção do novo, de que o Mercado de Vila da Feira (1954) e a Casa de Ofir (1956) são exemplo.

Nasce desse sentido de unidade, a premiada intervenção no Convento de Santa Marinha, em Guimarães, transformado em pousada, uma obra que lhe valeu em 1985 o Prémio Europa Nostra e dois anos mais tarde o Prémio Nacional de Arquitectura, dois dos muitos galardões que lhe foram atribuídos em vida.

Além de inúmeras intervenções no centro histórico do Porto (de que foi um dos principais defensores), Aveiro e Guimarães, Fernando Távora assinou ainda trabalhos tão emblemáticos como a Casa dos 24 (Porto), a Escola do Cedro (Gaia), ou as intervenções na Quinta da Conceição (Matosinhos) e no Convento dos Refóios, adaptado para albergar a Escola Superior Agrária em Ponte de Lima.

Destaques ainda para os vários ensaios que publicou ao longo de meio século de actividade, como “O Problema da Casa Portuguesa” (1947) ou “Da Organização do Espaço” (1996), bem como a sua participação no projecto que culminou no “Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa”.

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