DANCETERIAS DÃO BAILE ÀS TARDES DO PORTO

São um espaço alternativo às discotecas e atraem grupos de famílias. A música de baile é uma característica das danceterias e muitos adeptos dizem que substituíram a fisioterapia por uma tarde dançante. Por Vanessa Rodrigues (texto) André Amaral (foto)

Quando a música se transforma numa balada lenta e as luzes diminuem para dar lugar a efeitos coloridos de luz, é sinal de que os pares podem começar a dançar. É assim todas as terças, quintas e domingos à tarde até à hora de jantar, quando abre a pista de baile na danceteria Arrasta o Pé, no Porto, no oitavo piso do Silo Auto. São 15h30 da tarde e a danceteria começa a encher. Mais de trinta mesas estão reservadas e, nas toalhas de papel, lê-se o nome de quem as pediu. A tarde ainda agora começou, mas, na sala, contam-se já cerca de cento e cinquenta pessoas. A meio da tarde, já eram mais de duzentas. O burburinho das conversas mistura-se com a música, com os passos de dança e com o barulho dos copos de vidro que vão pousando na mesa do bar. No tecto, uma enorme bola prateada, ao estilo dos adornos de discoteca dos anos 80, difunde as luzes coloridas nela reflectida, para depois as espalhar pelo tecto. A pista de dança está encerada e o bolero envolve já as dezenas de casais.
Nesta danceteria, é proibido entrar de fato de treino e sapatilhas. Por isso, quem quer entrar, apruma-se a rigor. As senhoras não dispensam o batom e os gestos delicados. Eles não dispensam a camisa e meneios cavalheirescos. Depois, fumar e beber a dançar é interdito. E ninguém pode dançar sozinho. É que a pista é uma espécie de lugar sagrado, para casais.
"Há preocupação na escolha dos clientes e há regras a cumprir", justifica José Castro, gerente da Arrasta o Pé. "Este é um ambiente familiar e procuramos dar conforto a quem vem à danceteria", diz. À entrada do espaço, os clientes são examinados com um detector de metais e há alguns seguranças na sala a controlar o ambiente. Ao longo do espaço, várias câmaras de televisão compõem o circuito fechado de vigilância, controlado pela gerência.
"Há muitas famílias que aproveitam a tarde para vir à danceteria, festejam aniversários e aproveitam para conviver com outras pessoas. É um lugar de confiança", explica Castro, esclarecendo que a ideia foi inspirada num imigrante português que viu nesses espaços uma oportunidade de juntar as pessoas e de reviver os bailes do passado. Uma danceteria é diferente dos denominados night clubs, porque não só é animada, exclusivamente, por grupos de música de baile, "de forma a reviver os bailes de outrora, realizados nas colectividades", como ressalva o proprietário da Arrasta o Pé, mas também porque é aberta a todos estratos sociais e idades.
Grupos de pessoas juntam-se nas mesas e riem, falam e observam quem dança. Numa das mesas, está uma senhora com o filho de pouca idade. Noutra um casal troca confidências, enquanto, na mesa ao lado, a conversa absorve três amigos. "Sempre que venho aqui, sinto-me rejuvenescida", diz Nilda Ferreira, de 58 anos. "Em vez de estar num café sem fazer nada e a ver televisão até à hora de jantar, venho aqui para conversar e fazer um pouco de ginástica, dançando", enfatiza, para depois acrescentar ali que esquece os problemas.

"O médico manda-me fazer exercício e eu... danço"Rui Manuel, de 52 anos, fotógrafo reformado, realça os benefícios das tardes dançantes para a saúde: "O médico diz-me que devo caminhar para fazer exercício. Em vez disso, argumento que danço". Este ex-fotógrafo explica, entretanto, que já frequenta danceterias há algum tempo. "Dançar torna-se um vício. Há caras que já se conhece e muitos percorrem os poucos espaços durante a semana. Faz-se amigos e o convívio é salutar", esclarece. Rui Manuel adverte para a importância do anonimato de algumas pessoas que frequentam as danceterias. "Algumas pessoas não querem ser fotografadas, porque não querem que se saiba que vão a danceterias." E porquê? "Cada um tem os seus motivos", revela, cortando a conversa com um sorriso.
A familiaridade das danceterias e o atendimento personalizado foram as características mais salientadas por Paula Ramalho, de 29 anos, que começou a frequentar a Arrasta o Pé há dois meses. "As pessoas são muito educadas. Eu não gosto de discotecas e, na danceteria, ouço a música de que gosto, tenho espaço para circular e o barulho não me impede de conversar."
Rosa Pereira, de 34 anos, expressa opinião semelhante: "O mais interessante das danceterias é o facto de reunir pessoas de todas as idades. A música de baile cativa muitas pessoas e, ao convivermos, aliviamos o stress". Ao todo, a danceteria Arrasta o Pé tem lotação para 800 pessoas e, por semana, conta com a presença de mais de dois mil clientes. Três euros é o preço de ingresso nas tardes dançantes para os homens e dois euros é o valor para as mulheres, com direito a lanche e bebida.
José Castro garante que o facto de ter apostado na profissionalização de danceterias lhe deu vantagens de popularidade sobre as outras casas do género no Porto, até porque também é proprietário de uma outra danceteria na Maia, a Bolero, que dispõe de um restaurante. "Fazia falta espaços alternativos de dança às discotecas", ressalva o proprietário. "Abri a Bolero há cinco anos e, desde então, é um sucesso. A Arrasta o Pé vai pelo mesmo caminho, contando apenas com um ano de existência."

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