Povoado neolítico descoberto em "resort" de Portimão

Arqueólogo considera achado de "uma riqueza como nenhum outro em Portugal"

No morgado do Reguengo, em Portimão, uma propriedade com 960 hectares onde está a ser construído um "resort" turísitico, foi descoberto um povoado neolítico com 6500 anos, que é considerado "um tesouro".Por debaixo do chamado castelo Belinho - uma fortaleza islâmica - foi detectada uma outra página da história do Algarve, em cujo interior se encontram mais de vinte sepulturas em forma de ovo.
Ontem, a menos de uma semana de dar por terminadas a prospecções arqueológicas no local, o arqueólogo Mário Varela Gomes afirmou: "O que aqui encontrámos revela um povoado neolítico com uma riqueza que não existe em nenhum outro em Portugal". Do espólio escavado destaca-se uma necrópole, com objectos e mais de duas dezenas de sepulturas, que lança nova luz sobre o lugar, marcado por um relevo cobiçado para a construção de campos de golfe. Encontraram-se igualmente vestígios de habitações. "Temos plantas de casas marcadas no chão, junto a buracos dos seus postes de madeira", disse o arqueólogo.
O investimento turístico nesta propriedade, na ordem dos cem milhões de euros, está a cargo da Imoreguengo (do Grupo Espírito Santo). O interesse pela arqueologia surgiu a meio do percurso, depois de, no final do ano 2000, terem sido encontrados dois menires quando se fazia o primeiro campo de golfe. Rosa Varela Gomes, nos anos 80, já tinha identificado o castelo Belinho como fortaleza avançada de Silves, mas os vestígios do neolítico estavam cobertos por toneladas de terra. A prospecção arqueológica, desenvolvida no ano passado e neste Verão, com a colaboração de alunos da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, acabou corresponder às expectativas dos promotores. O historiador Carlos Damas, funcionário do BES, afirmou: "É a lotaria, o que aqui se encontrou em termos de estrutura neolítica". No futuro, a estação arqueológica passará a fazer parte de um projecto designado por Caminhos do Património.
O representante do Banco Espírito Santo nesta acção defende ser necessário transmitir ao visitante o "espírito do lugar". Mário Varela Gomes agarra na deixa e sublinha a ideia: "As pessoas que aqui viveram acreditavam na ressurreição". Os mortos, de acordo com os testemunhos encontrados, foram enterrados na posição fetal, em fossas em forma de ovo - analogia ao útero materno. Quanto aos vestígios, destaca as 22 braceletes de conchas do mar encontrados nos braços de um adolescente. É "a sepultura que mais braceletes deu, em toda a Península Ibérica". "Tal adorno indica que se traria de alguém de alto estatuto social", conclui Rosa Varela Gomes, especialista da época islâmica. Não seria um guerreiro porque não tinha armas, diz o marido, Mário. "Mas é provável que fosse um mágico, um grande mágico".

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