Bloco de Esquerda questiona Governo sobre alegado envolvimento da PT no "mensalão"

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A presidência da PT e Marcos Valério já negaram o envolvimento da operadora portuguesa no caso mensalão Paulo Ricca/PÚBLICO

O Bloco de Esquerda pediu hoje ao Governo "esclarecimentos urgentes" sobre o "grau de conhecimento" do Executivo sobre o encontro da administração da Portugal Telecom com Marcos Valério, um dos principais nomes envolvidos no esquema de pagamentos a deputados brasileiros para que aprovassem medidas do Governo, conhecido pelo “mensalão”.

Em requerimento entregue hoje na Assembleia da República, o deputado do Bloco de Esquerda Francisco Louçã solicitou ao ministro das Obras Públicas, Transportes e Telecomunicações, Mário Lino, que esclareça o "grau de conhecimento" que o Governo, enquanto representante do accionista Estado na Portugal Telecom (PT), "teve ou tem" sobre a reunião entre o publicitário brasileiro e a administração da empresa.

"Não está cabalmente esclarecido, nem a motivação, nem a data dos contactos de Marques Valério, com a administração da Portugal Telecom, na pessoa do seu presidente, que por sua vez solicitou ao então ministro das Obras Públicas António Mexia um encontro com o referido empresário", sustentou.

Num outro requerimento entregue na Assembleia da República, Louçã questionou o ministro da Justiça sobre se o ministério está preparado para garantir "toda a extensão possível" da colaboração com a comissão parlamentar de inquérito brasileira, no caso da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso decidir deslocar-se a Portugal.

O deputado perguntou se a colaboração portuguesa poderá incluir o acesso "ao registo de chamadas telefónicas que permita precisar as datas verdadeiras das reuniões havidas entre o publicitário Marcos Valério e as administrações de empresas portuguesas ou o gabinete do ministro António Mexia".

Manifestando "especial preocupação pelo envolvimento de empresas portuguesas" no "mensalão" brasileiro, o coordenador da comissão política do Bloco de Esquerda considerou que as respostas que "têm vindo a público" do lado português "não têm sido suficientemente convincentes, nem proporcionais à gravidade das acusações".

Louçã questionou o Governo sobre quais as "diligências que efectuou no sentido de um cabal esclarecimento", sobre as datas em que aconteceram os dois encontros e sobre as motivações do presidente das PT para "promover o encontro" entre Marcos Valério e António Mexia.

"Mantém o Governo, que representa o accionista Estado na PT, a confiança nesta administração", questionou Louçã, solicitando ainda que o Governo informe se "existe alguma investigação em curso sobre os actos de António Mexia naquele contexto".

O ex-ministro das Obras Públicas António Mexia encontrou-se na passada quinta-feira em Lisboa com o embaixador do Brasil e reiterou o "repúdio à tentativa de envolvimento do seu nome em questões de política interna do Brasil". Num comunicado, o membro do Governo adiantou que repetiu as suas "únicas e definitivas declarações sobre a visita de cortesia concedida ao senhor Marcos Valério, a pedido e na presença do presidente executivo da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa".

O encontro de António Mexia com Marcos Valério, cujo nome tem estado envolvido no escândalo de captação ilegal de financiamentos para partidos políticos no Brasil, foi mencionado na comissão parlamentar de inquérito no congresso brasileiro, pelo deputado Roberto Jefferson, o principal autor de denúncias de corrupção do Governo de Lula da Silva.

Por seu lado, o presidente da PT negou em entrevista ao “Diário Económico” no passado dia 4, qualquer envolvimento da empresa no "mensalão" brasileiro.

Horta e Costa justificou o encontro com Marcos Valério "porque ele estava interessado na PT no contexto do interesse da Portugal Telecom numa eventual aquisição da Telemig no estado de Minas Gerais", e reiterou que a PT "nunca financiou, não financia, e nunca financiará partidos políticos".

Ontem, também Marcos Valério negou na Comissão Parlamentar de Inquérito que a PT estivesse envolvida no caso “mensalão”.

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