Risco de cancro relacionado com terapia hormonal deve ser reavaliado, afirma especialista

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A investigação foi realizada por uma equipa de 21 peritos de oito países, que concluíram que a THS aumenta o risco de cancro na mama e no endométrio PÚBLICO

"Se o estudo for cientificamente credível, é evidente que temos de ter ainda mais cuidado na prescrição da THS, embora actualmente já sejam tomadas todas as precauções", explicou à Lusa o presidente da Assembleia-Geral da Sociedade Portuguesa de Senologia, Vítor Veloso.

Segundo o responsável, os benefícios da Terapia Hormonal de Substituição (TSH) têm-se demonstrado superiores aos riscos e, das milhares de mulheres que já seguiu, o médico afirma não ter conhecimento de casos de cancro associados à THS.

Contudo, o também director do Departamento de Cirurgia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto lembrou que a THS não deve ser administrada a mulheres em períodos superiores a cinco anos.

O Centro Internacional de Investigação sobre o Cancro (CIRC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que a Terapia Hormonal de Substituição (THS) é "cancerígena".

A investigação foi realizada por uma equipa de 21 peritos de oito países, que concluíram que a THS aumenta o risco de cancro na mama e no endométrio.

"O risco aumenta com a duração da utilização e é superior ao que ocorre nas mulheres que usam uma hormonoterapia da menopausa baseada apenas em estrógenos", revela o relatório do estudo.

A THS é utilizada em Portugal - e em todo o mundo - por milhares de mulheres que, desta forma, conseguem aliviar os sintomas da menopausa, como os afrontamentos e calores súbitos, a sudação e as cefaleias, a irritabilidade e as dores ósseas, entre outros.

Estes efeitos surgem porque a menopausa, que é o fim da menstruação, se deve à redução do funcionamento dos ovários e, logo, do final da produção de hormonas femininas (estrógenos), as quais são um "escudo" contra problemas cardíacos ao manterem os níveis de colesterol (gordura no sangue) em baixo.

A THS tem sido sujeita a várias avaliações nos últimos anos.

Em Fevereiro de 2004, a revista médica britânica "The Lancet" lançou a confusão ao publicar as conclusões de um estudo sobre os efeitos da THS em mulheres que tiveram cancro da mama e que apontava para o risco "inaceitavelmente alto" de recorrência em mulheres sujeitas ao tratamento.

Oito meses antes, cientistas norte-americanos interromperam abruptamente o maior estudo realizado no país sobre a utilização da terapia de substituição com as hormonas estrogénio e progestina, afirmando que o seu uso a longo prazo aumentava o risco de cancro da mama, acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos.

Em 2003, um outro estudo britânico concluiu que as mulheres submetidas a tratamento com hormonas de substituição tinham um risco 22 vezes superior de morte por cancro da mama e que as tratadas com estrogénio e progestina juntas tinham um risco maior do que as tratadas só com estrogénio.

Mais tarde, o estudo WHI (Women Health Initiative), iniciado em 1997, concluiu que não existia nenhum aumento do risco cardíaco nem do cancro da mama" em mulheres que realizaram terapias de substituição hormonal com estrogéneos.

O mesmo estudo revelou que, em mulheres tratadas com as hormonas estrogéneo e progestagéneo ou só com a primeira, se registou um aumento de 0,01 por cento do risco de acidente vascular cerebral (oito em cada dez mil mulheres tratadas durante um ano, comparativamente às mulheres que não efectuam tratamento).

Este estudo envolveu cerca de 35 mil mulheres saudáveis, com uma média de idades de 67 anos, e divididas em dois grupos: mulheres que realizavam uma TSH à base de estrogéneos e mulheres cuja TSH implicava a associação de estrogéneos e progestagenos.

Em Portugal, a menopausa afecta cerca de dois milhões de mulheres, um número que vai crescer com o envelhecimento da população.

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