Seca está a fazer aumentar alergias e problemas respiratórios
A directora do serviço de imunoalergologia do Hospital de São João, no Porto, Maria Graça Castel Branco, afirma que o período de seca está a fazer aumentar a ocorrência de problemas respiratórios e alérgicos. Na "consulta de permanência" da especialidade, que mantêm diariamente na unidade hospitalar nortenha, houve uma duplicação de casos nos últimos dois meses. Costumavam ser uma média de cinco a doentes por dia, agora são o dobro, refere. Ao mesmo tempo, a frequência dos pedidos de intervenção da imunoalergologia às urgências gerais "mais do que duplicou", comenta.
Tal é também notório com os doentes que já sofrem destes problemas e que em vez de virem às consultas programadas, que costumam ser de três em três meses, começaram a vir de mês a mês, junta a especialista. "As chuvas têm um efeito protector, de limpeza da atmosfera." Sendo escassa, é natural que as pessoas que "já passam mal nesta época, agora passem pior", nota.
O pneumologista do centro hospitalar de Torres Vedras António Domingos afirma que com a diminuição da humidade relativa do ar "há uma exacerbação das queixas respiratórias". Ao mesmo tempo, o tempo seco leva ao aumento da concentração de pólen de plantas no ar, o que desencadeia crises nos doentes alérgicos e pode mesmo conduzir a primeiras crises de asma ou rinite alérgica, refere.
"Houve um atraso nas queixas das alergias de Primavera", refere, por seu lado, Palma Carlos, professor catedrático de medicina interna e alergologia na Faculdade de Medicina de Lisboa. Nota na sua prática privada "um pequeno surto de queixas respiratórias, não graves mas incómodas", como é o caso dos espirros, da tosse e da expectoração, enuncia. Mas são as pessoas que já sofrem de doenças respiratórias que apresentam mais queixas, junta.
Incêndios prejudicam qualidade do arO coordenador da Linha de Saúde Pública (808211311), Sérgio Gomes, afirma que, num universo de 120 chamadas diárias, uma média de 20 prendem-se com problemas de saúde relacionados com a seca e o calor. A maioria são de doentes crónicos que já sofrem de problemas respiratórios, como é o caso da doença obstrutiva crónica e dos asmáticos. Noutras situações são pessoas a pedir conselhos quando estão perto de incêndios. Nestes casos, os técnicos aconselham, por exemplo, as pessoas a permanecer em casa e a fechar as persianas.
Um dos factores que também contribui para o acréscimo de problemas do foro respiratório são mesmo os incêndios, enuncia a DGS. De entre os poluentes emitidos pelos fogos destacam-se o dióxido de enxofre e o monóxido de carbono, que "podem agravar sintomas respiratórios e trazem o aumento do risco de doenças respiratórias e uma redução da função pulmonar", mas também causar problemas oculares e dermatológicos, enuncia a circular informativa da DGS, intitulada Seca: Medidas de actuação e recomendações à população, que pode ser consultada em www.dgsaude.pt.
Pedro Mata, alergologista do British Hospital, em Lisboa, afirma que o calor provoca maior concentração de poluentes na atmosfera e estes "provocam hiperactividade respiratória".
A quantidade da área e as populações afectadas pelas complicações de saúde ligadas aos incêndios dependem de factores meteorológicos, que vão desde as temperaturas à direcção e intensidade do vento.