O PS vive, neste momento, um inesperado processo de "primárias" com vista às presidenciais. Tanto Mário Soares como Manuel Alegre, aliados desde sempre, estão disponíveis para ser candidatos.

"Se o partido disser "nós apoiamo-lo", estou plenamente convencido que Mário Soares avançará". Vítor Ramalho, deputado, ex-assessor de Mário Soares na Presidência da República e "soarista íntimo", não tem dúvidas de que, se o PS estiver disposto a apoiar uma nova candidatura do ex-Presidente da República, Soares está pronto.

"É necessário que o partido defina quem é o seu candidato. O meu convencimento hoje é que se o partido indicar o dr. Mário Soares, ele não negará um combate por uma causa nacional", disse ainda ao PÚBLICO Vítor Ramalho.

No mesmo dia em que Manuel Alegre afirmou ao PÚBLICO "estar disponível para ser candidato", Mário Soares, em declarações ao "Expresso", divulgava que tem "estado a ser pressionado por amigos" e que recebe "muitas cartas, telefonemas e apelos para se candidatar". Embora tenha repetido que "já disse por duas vezes que apoio o Manuel Alegre, desde que ele seja o candidato do partido", a revelação pública das "pressões" de que tem sido alvo não ajuda a fortalecer a pré-candidatura do seu aliado de sempre, Manuel Alegre. De resto, o "Expresso" não tem dúvidas e titula: "Candidatura de Soares iminente".

A disponibilidade de Mário Soares tem estado a ser tratada com extrema delicadeza pela direcção do PS, com quem tem havido contactos - assim como com Manuel Alegre. É considerado óbvio que, estando Soares efectivamente disponível, José Sócrates e o PS automaticamente o apoiarão. É o pai fundador - quase um "pai da pátria", de facto - e existe a convicção de que pode vir a ser o candidato mais bem colocado para uma disputa com Cavaco Silva.

De resto, Soares tem vindo - mesmo antes das legislativas - a preparar o terreno para uma decisão destas, ao ser provavelmente o socialista que com mais ênfase quis debater a questão das presidenciais e a necessidade da esquerda se unir e não deixar escapar o "território socialista" de Belém.

O líder parlamentar do PS, Alberto Martins, congratulou-se com a disponibilidade revelada por Manuel Alegre para se candidatar a Belém, considerando-a "um acto de relevante significado político". Para Alberto Martins, Alegre é "uma das grandes figuras da política e da cultura portuguesas" e o líder parlamentar afirma de que "se apresentar a sua candidatura", Alegre "o fará na defesa dos valores da democracia, da esquerda e dos socialistas". "Terá o meu apoio pessoal", afirmou ao PÚBLICO.

Também o ex-ministro da Justiça José Vera Jardim declarou o seu apoio a Manuel Alegre, considerando-o com "o perfil certo" para o cargo: "Manuel Alegre, na sua dimensão como democrata, lutador pelos direitos humanos e homem de cultura, tem o perfil certo para a defesa desses valores numa candidatura à Presidência da República que, a concretizar-se, terá o meu completo apoio", afirmou Vera Jardim, em declarações à agência Lusa.

Mas é visível a cautela entre os socialistas. A disponibilidade de Mário Soares vem acrescentar um dado revolucionário ao processo em curso de escolha de candidato presidencial: se Soares - fundador, histórico secretário-geral e Presidente da República durante 10 anos - quiser protagonizar um combate contra o seu velho inimigo íntimo Cavaco Silva, é improvável que isso não aconteça.