Atentados falhados provocam o pânico em Londres

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Os primeiros momentos após as explosões foram de grande confusão e muitas ruas foram fechadas Daniel Deme/EPA

"A intenção era matar", declarou o chefe da Scotland Yard, Sir Ian Blair, numa conferência de imprensa poucas horas depois das explosões, que ocorrem quase em simultâneo. Isso significa que, do ponto de vista dos seus autores, os atentados falharam. É possível que tenham sido obra de amadores, as bombas eram pequenas e algumas não terão explodido como previsto. No entanto, Ian Blair não minimizou a ameaça, classificando as acções como "muito graves".

O primeiro-ministro Tony Blair apelou aos britânicos para manterem a calma e continuarem as suas vidas normalmente. "Nós sabemos porque é que estas coisas são feitas. É para meter medo às pessoas, para as tornar ansiosas e inquietas", disse, numa conferência de imprensa em que apareceu ao lado do seu homólogo australiano, John Howard.

Os jornalistas pressionaram-no: "Foram as suas políticas que colocaram os cidadãos comuns de Londres na linha da frente contra o terrorismo?", perguntaram, referindo-se à ligação que nos últimos dias tem sido feita entre os atentados e a guerra no Iraque. "O que os terroristas querem é ver-nos dar meia volta e dizer "a culpa é nossa"", respondeu Blair. "Os responsáveis pelos atentados terroristas são os terroristas", frisou.

As autoridades britânicas mostraram-se muito prudentes não revelando qualquer pormenor sobre as investigações e limitando-se a confirmar que foi lançada uma caça ao homem. Apesar das semelhanças, o chefe da Scotland Yard sublinhou que era ainda demasiado cedo para estabelecer uma ligação entre os ataques de ontem e os de dia 7. "Não estou em posição de afirmar que [os dois acontecimentos] estão ligados. Penso que isso levará algum tempo", declarou Ian Blair. Anunciou, por outro lado, que a polícia conseguiu obter material forense que deverá ser extremamente útil para esclarecer o que aconteceu.

Os primeiros momentos após as explosões foram de grande confusão. A circulação foi imediatamente interrompida nas linhas de metro afectadas, e as ruas em redor foram fechadas, assim como a zona em que se deu a explosão no autocarro, Hackney Road. As redes de telemóveis entraram em colapso. A polícia pediu às pessoas para se manterem onde estavam e as televisões mostraram homens com fatos de protecção química a entrar no metro. Logo em seguida, contudo, a Scotland Yard anunciou que os primeiros testes efectuados permitiam concluir que não se tratara de um ataque químico.

A confusão prosseguiu durante mais algum tempo, com a televisão a mostrar em directo a detenção de um homem quase em frente da residência oficial do primeiro-ministro, em Downing Street. Outro indivíduo fora já detido pouco tempo antes - aparentemente tratava-se de um homem que tentara escapar da zona do metro de Warren Street após uma das explosões e que se escondeu durante algum tempo num hospital, que foi imediatamente cercado pela polícia.

No metro na estação Oval, várias pessoas contaram ter visto um homem com uma mochila e um comportamento suspeito, que teria depois tentado fugir e fora perseguido, aparentemente sem resultado, por alguns dos passageiros.

Os dois cenários

Com os nervos à flor da pele desde há quinze dias, apesar da calma que demonstraram depois dos primeiros atentados, os londrinos inundaram os serviços de emergência com chamadas alertando para pacotes suspeitos um pouco por toda a cidade.

Apesar de a polícia ter evitado entrar em especulações sobre as explosões de ontem, especialistas em questões de segurança ouvidos pela Reuters avançaram com dois cenários possíveis. Um é o de que elas foram provocadas por amadores que tentaram imitar o que aconteceu há duas semanas; a segunda hipótese é a de que se tratou do mesmo grupo terrorista.

"É muito plausível que eles tenham planeado uma campanha e não apenas uma bomba", afirmou Michael Clarke, do King"s College. "Faz parte da psicologia terrorista pensar que uma bomba nunca é suficiente." Robert Ayers, da Chatham House, considera mais provável que se trate da mesma rede e recorda que depois dos primeiros atentados a polícia descobriu em diferentes locais explosivos guardados para virem a ser usados.

Este analista afirma que teve sempre a suspeita de que "os explosivos foram deixados no carro [que a polícia encontrou em Luton há 15 dias, onde fora deixado pelos bombistas] para outro grupo ir buscar e realizar um segundo atentado". Com a descoberta da polícia, o plano falhou e teria sido preciso arranjar uma solução de improviso. Uma possibilidade que Ayers admite é a de que as bombas de ontem tivessem sido mal feitas e que, por isso, apenas explodiram os detonadores e não a carga principal.

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