Freitas do Amaral admite candidatar-se à Presidência da República em 2006

Foto
“Nunca digas nunca”, responde Freitas do Amaral a uma eventual candidatura presidencial António Cotrim/Lusa

"Never say never [nunca digas nunca]. Eu sei lá o que me vai acontecer daqui a seis meses", respondeu Freitas do Amaral a uma questão directa sobre uma eventual candidatura presidencial.

No seu entender, o "facto de ter aceite o convite para integrar o Governo" não o impedirá - tal como a qualquer outro membro do Executivo - "de eventualmente ser candidato" às eleições presidenciais.

Apesar de não fechar essa porta, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros refere que não quer abrir "nenhuma especulação" em relação à sua eventual candidatura e afirmou que se sente muito bem no cargo que ocupa.

O ministro dos Negócios Estrangeiros acrescentou que desde a eleição do actual Presidente da República, Jorge Sampaio, decidiu que "não faria nada para uma candidatura presidencial".

"É excesso de especulação estar sempre a pensar que eu tenho esse objectivo escondido, quando a verdade é que eu não faço rigorosamente nada para atingir tal objectivo. Há outros que o fazem, mas eu não faço isso e isso quer dizer que não estou empenhado na corrida às presidenciais", afirma Freitas do Amaral.

O ministro considera que existe um "perigo potencial" de a eventual candidatura do ex-primeiro-ministro Cavaco Silva às presidenciais poder colocar em risco a estabilidade política e da legislatura do Governo que integra.

Também a propósito das eleições para Belém, Freitas do Amaral notou que esta é a primeira vez desde 1976 que a cinco meses das eleições ainda não se conhecem os candidatos presidenciais.

"Se isso revela falta de interesse pelo cargo é mau para o sistema político. Se revela excesso de táctica é mau para a democracia porque a democracia exige que uma eleição presidencial seja precedida de um amplo debate nacional", considera.

Questionado sobre se votaria no socialista Manuel Alegre, apontado como potencial candidato do PS às presidenciais, o antigo líder e fundador do CDS respondeu apenas que "em democracia o voto é secreto".

Reparos à mensagem do Governo suscitaram críticas da oposição

Na entrevista, de quatro páginas, Freitas do Amaral defende que durante as campanhas eleitorais não se deve expor a política fiscal. No seu entender, "não deve haver declarações sobre matéria de impostos".

Ontem, no lançamento da entrevista que é hoje publicada na íntegra, o DN transcrevia outras citações de Freitas do Amaral, que considera que o Governo "não explicou suficientemente a inevitabilidade da subida dos impostos" e que a forma como "explicou aos portugueses as medidas de austeridade para equilibrar as contas públicas" foi insuficiente.

"As medidas eram tão difíceis, demoraram tantas horas de trabalho e de ponderação a definir e a aprovar, que todos nós, a começar por mim, descuidámos a frente externa, a frente da explicação ao país das medidas tomadas. Mas isso certamente se vai intensificar", afirma Freitas do Amaral na entrevista ao DN.

Estas declarações suscitaram críticas da oposição. O CDS-PP considerou que Freitas do Amaral fez "mea culpa" sobre o desempenho do Governo; o PSD disse que o ministro pôs em causa autoridade de José Sócrates. Já o PCP preferiu desvalorizar as declarações em causa e criticou as políticas do Governo.

Já hoje, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS, José Sócrates, afirmou que a polémica com Freitas do Amaral é própria da "silly season".

Atraso na definição do orçamento da UE "não é grave"

No âmbito da União Europeia, Freitas do Amaral refere, na entrevista publicada hoje, a necessidade de "afirmar a vocação europeia de Portugal" e a capacidade do país de fazer propostas "que mereçam o consenso" dos parceiros europeus.

"Defender os interesses nacionais legítimos de um país que não é dos mais desenvolvidos da Europa" é outro objectivo para que Portugal possa "crescer mais depressa e atingir mais rapidamente a média europeia".

O ministro aborda ainda a necessidade de potenciar o valor do conjunto dos países que formam a Comunidade dos países de Língua Portuguesa como forma de defender a língua portuguesa.

Freitas refere também a possibilidade de serem encerradas algumas embaixadas, mas também a necessidade de se abrir outras, nomeadamente nos dez países que acabaram de entrar para a União Europeia e naqueles que se preparam para a adesão.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros considera ainda que o tratado constitucional europeu não pode ser ratificado sem referendo e que o atraso na definição do orçamento da UE "não é grave, no sentido em que ainda não é tarde".

Sugerir correcção
Comentar