De miniautocarro pela Linha de Vendas Novas

Com o aproximar das 19h25, o habitualmente pacato largo da estação da Ponte de Reguengo (concelho do Cartaxo) ganha uma animação invulgar. Mais de uma dezena de passageiros aglomeram-se em torno do pequeno autocarro da Rodoviária do Alentejo (RA) que os vai levar até à margem esquerda do Tejo, substituindo os comboios de passageiros que, desde o final do ano passado, já não circulam na linha, centenária, que liga Vendas Novas (Alto Alentejo) ao Setil, em pleno coração do Ribatejo.As conversas habituais no percurso de quase hora e meia até Vendas Novas são, desta vez, substituídas pelos problemas de quem se defronta com a crescente falta de resposta dos transportes públicos. A presença do jornalista anima alguns a reclamarem novamente o regresso dos comboios.
Onofre Silva, reformado da função pública, reside em Marinhais (Salvaterra) e frequenta a Universidade Sénior no concelho de Vila Franca de Xira. Chegou a reclamar, por escrito, a melhoria e o alargamento dos horários dos comboios. "Disseram que, naquela altura, entravam 12 passageiros na estação de Marinhais - vila com cerca de 6 mil habitantes - e que, assim, não se justificava uma situação melhor. Mas, se não oferecerem um serviço de qualidade logicamente as pessoas não utilizam", sustenta.
No início de Janeiro, a CP suspendeu ali os comboios de passageiros, alegando falta de procura, e contratou com a RA a criação de um circuito de mini-autocarro alternativo. Os utentes até apreciam a comodidade do veículo e o facto de nem lhes ser cobrado qualquer valor pelo percurso, mas têm algumas críticas a fazer: acham que devia haver mais ligações..
O mini-autocarro circula apenas duas vezes por dia, de segunda a sexta entre Vendas Novas (5h40) e o Reguengo (7h05) e de domingo a sexta no sentido inverso, saindo da estação do Reguengo às 19h25 e chegando a Vendas Novas às 20h50. Por incrível que pareça, fica parado durante 12 horas no Reguengo, até iniciar o percurso de regresso a Vendas Novas.
Com 16 lugares, o autocarro transporta, em média, treze a catorze utentes. Por vezes, alguns são obrigados a viajar em pé. Segue um percurso bonito através dos campos da lezíria ribatejana, até à outra margem do Tejo. Na região, as câmaras têm pressionado a CP para relançar os comboios de passageiros. Admitem contribuir financeiramente para o projecto e garantem que mais e melhores circulações poderão gerar mais procura e criar até condições para algum fluxo turístico. Jorge Talixa

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