José Sócrates inaugura amanhã obra com três anos de atraso

Modernização da linha ferroviária da Beira Baixa não privilegiou aumento da velocidade de circulação

O primeiro-ministro, José Sócrates, inaugura amanhã a modernização da Linha da Beira Baixa até Castelo Branco, uma obra terminada a 31 de Maio, que devia ter sido concluída em 2002 e que derrapou nos prazos durante três anos. O projecto, uma promessa do primeiro governo de Guterres, custou 75 milhões de euros, mas o seu impacte na redução dos tempos de percurso dos comboios é mínimo - apenas 20 minutos, 15 dos quais resultam da não necessidade de trocar de locomotiva no Entroncamento. Depois de se ter gasto quase um milhão de euros por quilómetro, o aumento de velocidade só permitiu um ganho de tempo real de cinco minutos.
Sócrates apanha amanhã o Intercidades da Beira Baixa em Santa Apolónia às 8h08 e chegará a Castelo Branco às 11h16. A viagem será integralmente feita em tracção eléctrica, mas só demorará menos 16 minutos do que na semana passada, quando o mesmo comboio ainda era rebocado por uma locomotiva a diesel.
A controversa modernização desta linha tem sido polémica, porque não resolveu o problema do seu traçado, muito sinuoso. Até Castelo Branco, um terço do percurso continua limitado à velocidade máxima de 80 km/h e só 20 por cento terá velocidades superiores a 120 km/h.

"Falsa modernização"O Grupo de Amigos do Caminho de Ferro da Beira Baixa tem criticado esta "falsa modernização" e diz que não será com uma simples electrificação desta linha que o modo ferroviário conseguirá resistir à concorrência da A23, que, desde que foi inaugurada, tem deixado os comboios da CP quase às moscas.
A própria transportadora reconhece a fraca procura: tem vindo a diminuir o número de carruagens nos comboios e acaba de introduzir no serviço regional automotoras de uma só carruagem, que - curiosamente - são a diesel, apesar de a linha estar electrificada.
A empresa demorou a reagir às novas condições tecnológicas da Beira Baixa, pois desde 31 de Maio que tem tensão eléctrica na linha e só a 10 de Julho alterou a sua oferta. Na próxima semana, fará mais uma alteração ao horário de um Intercidades, precisamente aquele em que o primeiro-ministro vai viajar amanhã, que passará a fazer o trajecto de Santa Apolónia a Castelo Branco no tempo recorde de 2 horas e 36 minutos.
Para a Refer, esta modernização não se justifica só pela (fraca) redução do tempo de percurso, mas também pelo aumento da segurança e da fiabilidade da circulação. Particularmente importante foi a eliminação de 48 das 57 passagens de nível existentes neste troço de 78 quilómetros e o controlo centralizado do tráfego ferroviário através de meios informáticos, substituindo procedimentos até há pouco exclusivamente dependentes de meios humanos.
Outro motivo de controvérsia no meio ferroviário foi a própria decisão de Guterres, que é natural do Fundão, de dar prioridade à Linha da Beira Baixa havendo outros eixos, como o Oeste e o Minho, com maior densidade populacional, que ficaram à margem do investimento na rede convencional.
Sócrates vai anunciar a continuação da modernização até à Covilhã, sua terra adoptiva, e à Guarda (decisão, de resto, já avançada durante o governo de Durão Barroso), mas terá de comprometer-se com mais projectos para a rede ferroviária convencional do que os até agora anunciados pelo Ministério das Obras Públicas. É que os 470 milhões de euros previstos até 2009 (para a Beira Baixa e linhas da Cintura, Sul e Alentejo) representam apenas uma quinta parte do que tem sido investido na ferrovia convencional nos últimos dez anos.

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