Coordenador da luta contra a droga alerta que há doentes não diagnosticados

Foto
Portugal é o segundo país da UE em matéria de infecção pelo VIH/sida entre os consumidores de drogas injectáveis Patrick Seeger/EPA

Em declarações aos jornalistas após uma audiência com os deputados da comissão parlamentar de Saúde, o presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), João Goulão, disse ter "fortes motivos para suspeitar que há uma população toxicodependente que não está diagnosticada" pelo que duvida que os números disponíveis em relação aos casos de infecção por VIH/sida e hepatites junto desta população "sejam os mesmos da realidade portuguesa".

Perante o previsto recrudescimento do número de casos de doenças infecto-contagiosas em toxicodependentes, João Goulão advertiu que não vai aceitar o argumento de que "é por estratégias erradas que isto está a acontecer".

Portugal é o segundo país da União Europeia em matéria de infecção pelo VIH/sida entre os consumidores de drogas injectáveis, estando também no topo da tabela em relação aos casos de hepatites.

Mesmo assim, os números mais recentes - nacionais e europeus - , têm apontado para uma estabilização, com ligeira descida, do número de casos diagnosticados destas doenças.

Durante a audiência com os deputados, solicitada pela comissão parlamentar de Saúde, João Goulão revelou igualmente as suas prioridades para o IDT, cuja liderança assumiu há cerca de dois meses.

A elaboração de um plano estratégico de actuação, com apresentação ao Ministério da Saúde prevista para Outubro, é uma das prioridades. Na base deste plano estão, segundo João Goulão, a carta de missão que apresentou ao ministro da Saúde quando tomou posse do cargo no IDT, o plano do Governo para o sector, as linhas mestras de estratégia contra a toxicodependência aprovadas pelo anterior governo (prevista para vigorar entre 2005 e 2012) e a Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga de 1999.

Ao nível da prevenção primária, a intenção de João Goulão é apostar em mensagens "cirúrgicas", já que, defendeu, "as estratégias de prevenção têm sido mal orientadas".

"Parece-me indispensável preparar os jovens para enfrentar o risco" das drogas, ao invés de mensagens que digam como evitá-lo, realçou.

João Goulão realçou a necessidade de "reformular as comissões de dissuasão" da toxicodependência, criadas na sequência da legislação que descriminaliza o consumo de drogas, em 2000.

Quanto à possibilidade de se avançar para a despenalização do consumo de drogas, que João Goulão sempre defendeu publicamente, o presidente do IDT recusou-se a agendar esta hipótese, até porque, enfatizou, "a descriminalização foi há muito pouco tempo" e não houve ainda "sedimentação suficiente" desta realidade e do seu impacto na sociedade portuguesa.

"Há-de haver um momento em que a própria sociedade terá perante [o consumo de] drogas uma postura" no sentido de a descriminalizar, vaticinou.

No que toca às medidas de redução de danos, João Goulão advogou que as salas de injecção assistidas "são importantes", sobretudo se constituídas como um equipamento amovível, capaz de acompanhar os fluxos migratórios dos toxicodependentes, mas - sublinhou -, "há respostas mais imprescindíveis do que outras".

E uma das que continua a ser "insuficiente" é o número de Centros de Atendimento a Toxicodependentes, afirmou.

Sugerir correcção
Comentar