Escola Virtual é "mais uma ferramenta" para aprender português

No próximo ano lectivo, o Governo espera que pelo menos 11 mil jovens emigrantes utilizem a Internet para aprender português. Actualmente, existem 42.300 alunos nas aulas de Português pelo mundo inteiro. As novas tecnologias não vão substituir os professores nem os manuais, assegura o secretário
de Estado das Comunidades Portuguesas, numa entrevista conjunta ao PÚBLICO e à Lusa. Por Bárbara Wong (texto) e Lionel Balteiro (foto)

No final de Junho, o Governo assinou um protocolo com vários parceiros para alargar o conceito da Escola Virtual aos jovens das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. A Escola Virtual é uma plataforma de Internet, desenvolvida pela Porto Editora, que pode ser usada no ensino à distância, mas não só, conforme explica António Braga. O objectivo é também alargar o acesso a cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a estrangeiros que queiram aprender o idioma. Um projecto que vai durar uma década.

PÚBLICO - A Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas lançou recentemente uma plataforma de ensino à distância. Esta vem de alguma maneira substituir os professores que dão aulas no estrangeiro?ANTÓNIO BRAGA - Este programa vem introduzir mais uma ferramenta para a aprendizagem da Língua Portuguesa. Em muitos casos, vem consolidar e dar suporte de referência quanto ao enquadramento curricular.
Isso significa que é uma plataforma que pode ser usada na sala de aula?
É uma garantia, como ferramenta de apoio no contexto de sala de aula. Hoje é possível ter um acesso on-line e ter um écrã gigante para que os professores e alunos trabalhem os conteúdos. Nós forneceremos cartões gratuitamente às escolas no estrangeiro que leccionam a Língua Portuguesa.
Como é uma ferramenta de ensino à distância, os professores não correm riscos?
É mais uma ferramenta. Haverá territórios onde, não havendo oferta de ensino, este será o único instrumento. Mas pode ser complementar, nomeadamente nas escolas feitas pelos movimentos associativos. Nesses casos será um complemento de resguardo do desenvolvimento do currículo com rigor, porque os currículos são inamovíveis do ponto de vista do utilizador, o que garante um resguardo e um apoio à aprendizagem.
A Escola Virtual põe em causa a utilização dos manuais?
O livro não é substituível. Neste caso, permite a consolidação do desenvolvimento da aprendizagem por via electrónica.
Esta é uma plataforma que pode ser utilizada por outros interessados?
Temos uma responsabilidade histórica para com os falantes de português, para além das comunidades portuguesas. A Escola Virtual permite que outros falantes, dos países de expressão portuguesa, possam também aceder, com prioridade absoluta. Poderão desenvolver aprendizagens que terão certificação. Esta aprendizagem é útil porque transformar-se-á num certificado, o que é uma mais-valia no mercado de língua portuguesa (África, América e Europa).
Como é que vai ser feita essa certificação?
A progressão na aprendizagem é feita por módulos, que têm de ser cumpridos com sucesso para passar ao seguinte. Como um jogo de computador, com vários níveis. No final, o utilizador pode requerer a realização de um exame presencial, a ser feito nos consulados, embaixadas ou universidades que têm protocolos com as instituições portuguesas envolvidas nesta iniciativa (as universidades Aberta e Lusíada). O exame dará ou não acesso a um diploma.
E um estrangeiro que não conheça o português, pode também usar a Escola Virtual?
Esse é outro objectivo, é que esta ferramenta possa ser utilizada para o ensino do Português como língua estrangeira, com conteúdos idênticos, mas com uma metodologia diferente e com a técnica de ensino à distância, que inclui mecanismos de auto-avaliação.
Esta plataforma de e-learning também permite a interactividade?
Vai permitir coisas que não imaginávamos ser possível. Vamos ter uma bolsa de professores para responder a dúvidas, numa fase inicial não será em tempo real, mas consoante as perguntas forem sendo colocadas vamos armazenando as respostas de maneira a que os utilizadores possam fazer pesquisa inteligente. O programa funciona consoante os ritmos de cada utilizador. E é uma plataforma que pode estar 24 horas disponível, porque se pode aceder a ela de qualquer parte do mundo.
Essa bolsa será constituída por quantos professores?
O centro vai funcionar em Portugal, mas teoricamente pode ser em casa de cada professor. Para já estamos a fazer a avaliação com o Ministério da Educação. Serão disponibilizados os docentes que forem necessários.
Não é uma mais-valia centralizar o ensino do português no estrangeiro num dos ministérios, Educação ou Negócios Estrangeiros?
A lei orgânica do Governo está estabilizada. Eu acho que tem de introduzir-se a componente da educação e das comunidades. Uma sem a outra não funciona, no ponto de vista de respostas articuladas. Portanto, o saber fazer do ponto de vista técnico e científico na área da educação está no ministério respectivo; por outro lado, o acompanhamento das comunidades está nesta secretaria de Estado e faz sentido que haja este cruzamento para responder a todas as preocupações e necessidades.

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