Cimeira do G8 arranca sob pressão

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A poucas horas de se iniciarem os trabalhos na cimeira, o ambiente parecia ainda descontraído, com o jantar oferecido pela rainha Isabel II Kirsty Wigglesworth/AP

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, foi o primeiro dos “oito” a chegar, sendo o anfitrião da cimeira que irá reunir numa luxuosa estância de golfe da Escócia, a 70 quilómetros de Edimburgo, os líderes dos EUA, França, Alemanha, Itália, Japão, Canadá e Rússia.

Apesar do encontro estar ensombrado pelo insucesso, Blair mostrou-se durante o dia de hoje confiante e assegurou que pretende continuar a defender os seus ambiciosos objectivos com os outros parceiros mundiais. Questionado pelos jornalistas se o Reino Unido se prepara para as propostas de apoio a África e resposta às alterações climáticas perante a prevista resistência dos Estados Unidos, o chefe de Governo disse estar preparado para “defender o que está certo”.

O Presidente norte-americano, George W. Bush, deixou já claro esta semana que não haverá favores na cimeira do G8 em troca da ajuda britânica à invasão do Iraque e que o seu apoio a um acordo global sobre as alterações climáticas ou do combate à pobreza em estará condicionado pela defesa dos "interesses dos Estados Unidos", que "estão primeiro". Porém, Blair diz não fazer sentido “especular sobre que bases o acordo irá assentar porque ainda não existe qualquer acordo”.

O primeiro-ministro britânico esteve hoje reunido com os músicos activistas Bono e Bob Geldof, que organizaram os concertos do Live 8 do passado fim-de-semana, em mais uma tentativa de pressionar os líderes do G8 a unir esforços para combater a pobreza e as doenças epidémicas no continente africano. “Três mil milhões de pessoas esperam que vá até ao fim”, disse Geldof a Blair, numa referência ao número de pessoas que se estima terem participado ou assistido pela televisão aos dez concertos que decorreram em quase todo o mundo.

Além de Blair, Bono e Geldof encontram-se ainda com Bush, com o chanceler alemão Gerhard Schroeder e com o primeiro-ministro canadiano, Paul Martin, deixando mais um apelo para que nos próximos dois dias as promessas se tornem factos. Bono prevê que os líderes do G8 aumentem as suas ofertas na cimeira, mas indicou que o objectivo de Blair de duplicar o apoio para 50 mil milhões de dólares ainda não tinha sido alcançado.

O músico aponta que Bush acredita que a sua administração já assumiu um compromisso substancial ao triplicar a ajuda norte-americana a África desde 2000. Já hoje, o Presidente norte-americano advertiu na Dinamarca, onde esteve antes de viajar para a Escócia, que irá defender a necessidade dos países africanos apresentarem sinais de compromisso para melhores governações no sentido de conseguirem mais apoios.

A poucas horas de se iniciarem os trabalhos na cimeira, o ambiente parecia ainda descontraído, com o jantar oferecido pela rainha Isabel II, apesar do clima contestatário que envolve a cimeira. Milhares de activistas anti-G8 montaram guarda à reunião dos líderes, desfilando pelas ruas das localidades próximas e tentando quebrar o perímetro de segurança que protege a estância onde se encontra o G8.

Os protestos têm recebido uma forte resposta policial, que tenta impedir qualquer tentativa de destabilização dos trabalhos da cimeira, recorrendo à ajuda da polícia a cavalo e elementos das forças de intervenção que investem sobre os manifestantes quando estes tentam ultrapassar as barreiras de segurança.

Esta manhã, os bloqueios de estrada realizados pelos manifestantes, bem como os vidros partidos de várias viaturas levaram à detenção de pelo menos 16 pessoas. Vários polícias ficaram feridos, tendo oito deles recebido tratamento hospitalar, após confrontos com os activistas.

Stirling, no centro da Escócia, 22 quilómetros a sul de Gleneagles, foi o local escolhido para o acampamento de cerca de cinco mil anarquistas e protestantes anti-globalização que pretendem chegar ao local da cimeira, respondendo a um apelo do movimento G8 Alternativo.

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