Inauguração do último lanço da A24 marcada por protestos

A abertura ao trânsito dos 18,8 quilómetros que faltavam ficou marcada por três manifestações populares contra a falta de pagamento dos terrenos expropriados e a ausência de nós de acesso

As cidades de Viseu e Vila Real já estão unidas por auto-estrada. Os 18,8 quilómetros que faltavam abrir ao trânsito, correspondentes ao sublanço Viseu-Castro Daire, foram ontem inaugurados pelo secretário de Estado adjunto das Obras Públicas e Comunicações, Paulo Campos. A cerimónia, realizada junto ao nó de ligação ao IP5, ficou marcada por três manifestações populares junto a Lordosa e Calde, no concelho de Viseu, e a Adenodeiro, no concelho de Castro Daire. As populações protestaram contra a falta de pagamento dos terrenos expropriados e a ausência de nós de acesso à A24.Durante a cerimónia de inauguração, o secretário de Estado sublinhou que o novo troço - que inclui 18 obras de arte e quatro viadutos e representa um investimento de 75 milhões de euros - contribui para dar seguimento ao programa do Governo, que é "muito claro" na intenção de "ligar todas as capitais de distrito" por auto-estrada. "Esta auto-estrada passa a ligar Viseu a Vila Real, servindo uma população que já é muito significativa. Estamos a falar de cerca de 600 mil habitantes. E esta infra-estrutura servirá não só as pessoas, mas todo o tecido económico e empresarial que aqui trabalha", vincou o governante, que classificou a A24 como uma "obra fantástica" em termos de "acessibilidade e coesão territorial". Paulo Campos realçou ainda que com a A24 se abre "uma janela de oportunidades" para a região, nomeadamente para a "potencialidade turística do Dão e do Douro" e para a "potencialidade científica, através das universidades e politécnicos" existentes.
O vice-presidente da empresa Estradas de Portugal (EP), António Pinhão, destacou ainda que a A24 permite a ligação directa entre o IP4, em Vila Real, e o IP5, em Viseu. "A abertura ao tráfego deste sublanço permite uma poupança de cerca de 30 minutos no percurso entre Viseu e Vila Real. Falta agora construir o lanço entre Vila Real e Chaves, na fronteira espanhola, que, com 71 quilómetros, representará um investimento de 370 milhões de euros e que deverá estar concluída em 2007", acrescentou.

Três manifestações de protesto
Longe do local da cerimónia, mais de uma centena de populares manifestou-se em três locais diferentes junto à A24, exigindo o pagamento relativo às expropriações e a construção de nós de acesso à auto-estrada. Nos cartazes expostos em Lordosa (Viseu) lia-se: "Porque é que no concelho de Viseu não existe nenhuma ligação da EN2 ao A24? Não seria o nó de Lordosa?" e "A A24 está nas nossas terras, ainda pagamos contribuição autárquica dos terrenos. Queremos os pagamentos. Se não nos pagarem vamos nós colocar as portagens na Scut/A24". "Devem-me 12 mil e tal euros por um terreno, onde eu cultivava milho, batatas, feijão... Estou muito descontente, passaram-me no terreno e não me pagaram o que prometeram", explicou Isaura Correia aos jornalistas. "A mim devem-me mais de 3500 euros de dois mil metros quadrados", acrescenta José Almeida Gomes, outro habitante.
Alguns quilómetros mais à frente, em Calde, novo protesto, onde mais de meia centena de pessoas acusava o Governo de ser "papão, ladrão e aldrabão", dado que das "promessas prometidas, nenhuma foi cumprida". "Ela [a A24] está bonita, pois! Mas foi à nossa custa", lamentava uma idosa. Já no concelho de Castro Daire, numa passagem superior, cerca de vinte pessoas explicaram aos jornalistas, gritando, que "uma dúzia de casas" da povoação de Adenodeiro ficaram "todas rebentadas, por causa dos tiros" das obras, e, além disso, continuam por receber as indemnizações relativas às expropriações dos terrenos. "Sr. Ministro Mário Lino: Temos vergonha em ser desta nação em que o maior é o mais ladrão e os pequenos às vezes nem pão. Paguem os nossos terrenos e deixem de ser ciganos... Arranjem caminhos e habitações e deixem de ser ladrões", lia-se num cartaz "para a comunicação social mostrar ao país".
Questionado pelos jornalistas, o secretário de Estado Paulo Campos explicou que teve conhecimento prévio dos protestos na inauguração da A24 entre Viseu e Vila-Real, acrescentando que o atraso nos pagamentos se deve a "questões meramente administrativas".
"Os processos serão terminados e ninguém verá qualquer dos seus direitos afectados por qualquer situação ou procedimento administrativo", assegurou.
Paulo Campos garantiu ainda que o Governo vai assegurar a duplicação da ligação entre o nó de Mozelos à cidade, exigida desde o primeiro instante por Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu. "Além de Mozelos, vai ser construída uma via [de ligação] à EN2, que permitirá melhorar as acessibilidades a algumas das zonas que não foi possível ligar directamente à auto-estrada. São obras complementares de ligação que estão previstas desde o princípio e que vão ser integralmente realizadas nos próximos meses", realçou o governante.
O secretário de Estado das Obras Públicas disse ainda que a polémica curva em forma de cotovelo, conhecida como"bossa do camelo", "é uma matéria" que o Governo considera "temporária" e que "irá resolver em tempo oportuno".

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