Rio Douro apresenta níveis de contaminação 122 vezes superior ao permitido

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A situação mais grave refere-se ao troço do rio entre a barra do Douro e Crestuma DR

O hidrobiólogo Adriano Bordalo e Sá, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, afirmou hoje no fórum “Ambiente no Grande Porto”, realizado na Maia, que as águas do rio Douro apresentam níveis de contaminação 122 vezes superior ao permitido pela legislação nacional e comunitária.

"É um valor gigantesco e de alto risco para quem utiliza aquelas águas, nomeadamente como zona balnear", disse o hidrobiólogo, que se referia ao troço do rio entre a barra do Douro e Crestuma.

Adriano Bordalo e Sá lamentou, sobretudo, "o não retorno" do "fortíssimo investimento" na construção de sete estações de tratamento de águas residuais (Etar), que se encontram já a drenar para o Rio Douro.

"Se houvesse uma rubrica no Guinness sobre o número de Etar por quilómetro linear, o estuário do Douro certamente ocuparia um dos primeiros lugares", disse Bordalo e Sá, criticando o facto do grosso do investimento ter sido feito na sua construção, descurando-se "a ligação da sanita dos munícipes à Etar", através da rede de saneamento.

Segundo o especialista, "as sete Etar estão a trabalhar a um terço da sua capacidade, porque o esgoto não chega lá" e "se não chega lá vai para as fossas sépticas e, consequentemente, para a linha de água mais próxima".

"Entre a barra e a zona de Crestuma existem muitas linhas de água extremamente poluídas", disse, apontando como a zona "mais crítica" em termos de poluição das águas, o percurso urbano entre o Freixo e a barra.

Contudo, segundo os estudos coordenados por este hidrobiólogo, a situação começou a melhorar a partir de 2004. Admitindo a melhoria da situação, Bordalo e Sá realçou que "seria de esperar um retorno muito superior dos investimentos nas Etar".

"Há uma grande dispersão quer de pessoal, quer de abordagens, uma vez que cada Etar tem um processo distinto de tratamento, o que é errado", acrescentou.

O Plano Estratégico de Ambiente da região do Porto – que envolve as câmaras do Porto, Gaia, Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Póvoa de Varzim e Vila do Conde e a Lipor -, que começou a ser preparado em 2003, deverá ficar concluído no início de 2006, disse o seu coordenador, Pedro Macedo, investigador da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica.

O projecto, único em Portugal, pela sua abrangência regional e prioridade à participação pública, permitiu já a criação de conselhos municipais de ambiente, a promoção do Prémio "Pensar o Grande Porto", a dinamização de um portal de ambiente e de uma rede de parceiros locais para a sustentabilidade, que envolve um total de 70 entidades.

Na conferência, a decorrer até amanhã no Fórum da Maia, serão debatidas quatro áreas temáticas consideradas prioritárias: "Água", "Mobilidade e qualidade do ar", "Formação e educação para a sustentabilidade" e "Ordenamento do território. Espaços verdes e áreas naturais".

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