Descoberta necrópole do século XIII no centro histórico da Covilhã

Achado situa-se a meio de uma rua, junto da Igreja de Santa Maria. Na mesma zona foram ainda descobertas cerâmicas dos séculos XVII, XVIII e XIX

Um conjunto de sepulturas antropomórficas foi descoberto no centro histórico da Covilhã, na zona intramuralhas, entre a Igreja de Santa Maria e o antigo edifício das Finanças, na Rua de 1.º de Dezembro, na sequência de obras de instalação de infra-estruturas de saneamento levadas a cabo pela câmara municipal. O achado, que, ao que tudo indica, é datado do século XIII ou XIV, levou anteontem ao local a edilidade, o arqueólogo responsável pelo acompanhamento dos trabalhos e o Instituto Português de Arqueologia (IPA), tendo sido já avaliado por uma antropóloga.De acordo com o arqueólogo que acompanha os trabalhos, Nuno Gamboa, trata-se "de três sepulturas, talvez quatro, muito perfeitinhas, que deverão ser do século XIII ou XIV". O espaço vai continuar a ser analisado, garante Nuno Gamboa, que antevê desde já a problemática que a câmara terá na divulgação e exibição dos achados ao público, uma vez que, nota, "estão numa zona de passagem de carros e são antropomórficas, ou seja, estão cravadas nos afloramentos das rochas, o que quer dizer que têm de continuar ali". "Foram já cobertas de material específico para serem preservadas e deverão ser enterradas outra vez até que a câmara encontre uma solução, que pode passar pela opção de vedar a rua ao trânsito", afirma o arqueólogo, ao considerar que esta é "uma descoberta importante", tendo em conta que na Covilhã não é habitual encontrarem-se vestígios arqueológicos. A serem enterradas, a ideia passa por marcar a superfície com desenhos idênticos aos dos vestígios, provavelmente no passeio, com uma placa explicativa no local.
"O achado está exactamente no meio da rua", refere o presidente em exercício na autarquia, Alçada Rosa, lamentando a sua localização, para depois salientar que a solução de enterrar temporariamente os achados não é um dado adquirido, uma vez que, frisa, "vão ainda ser alvo de estudo por especialistas, que certamente apontarãovárias soluções" para a sua preservação e exibição ao público. "A descoberta é muito recente, temos de esperar primeiro pelos especialistas e depois pensar numa solução", frisa.
Alçada Rosa também afirma que se trata de um "achado importante" para a Covilhã por não haver registos de muitas descobertas, à semelhança do que considera Nuno Gamboa, o que se explica, refere, por esta ser uma cidade de montanha. "Na Covilhã, como em todas as cidades de montanha, as gerações tiveram que ir destruindo o que existia para construir, pelas suas características, por ser rochosa, daí que não se registem muitos achados como este", afirma o presidente da câmara em exercício, ao notar que, ali próximo, estão edifícios do século XIV e o que resta da antiga judiaria, o que não será "estranho" que as sepulturas sejam desta época.
Devido à descoberta, a câmara municipal vai suspender a introdução de novas infra-estruturas de saneamento no exacto local do achado e reaproveitar uma tubagem antiga que ali está nas proximidades para continuar as obras, assegura Alçada Rosa. "É curioso que do outro lado da igreja não se tenha encontrado nada e só ali", diz. "O que acontece é que houve intervenções no passado, há uns 50 anos, que terão destruído os vestígios, uma vez que nessa altura não havia cuidados com a arqueologia", diz, por seu turno, Nuno Gamboa, que revela ainda que, no decorrer das obras, foram ainda descobertas cerâmicas dos séculos XVII, XVIII e XIX e também um poço do século XV ou XVI.
As cerâmicas foram encontradas um pouco por todas as ruas intervencionadas, ao longo destes últimos dois meses de trabalhos da câmara com acompanhamento arqueológico, enquanto o poço foi descoberto na Rua de Alexandre Herculano - que surge no seguimento da Rua de 1.º de Dezembro - há duas semanas. "A determinada altura deixou de ser utilizado e entulhado", afirma o arqueólogo, para depois esclarecer que o poço tem ainda "materiais muito bons dos séculos XIX, XVIII e XVII". Segundo esclarece este responsável, "só foi escavado cinco metros porque não havia condições de segurança, mas a ideia é continuar este trabalho". "Só aqueles materiais dão para fazer uma boa exposição num museu", antevê Nuno Gamboa, ao recordar que a câmara municipal pretende criar um novo museu. Alçada Rosa diz que é agora tempo de "esperar para ver o que se pode encontrar no poço" e que, caso surjam peças interessantes para o museu, cuja localização se prevê que seja na zona do Calvário - que ainda não avançou por questões financeiras -, serão integradas na estrutura.

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