Ouro alimenta violência no Leste do Congo

A corrida ao ouro no Nordeste da República Democrática do Congo (RDC) está na origem das graves atrocidades e violações de direitos humanos cometidas por grupos armados que lutam pelo controlo das minas e respectivas estradas de acesso na região. A denúncia é feita no mais recente relatório da organização sedeada em Nova Iorque, Human Rights Watch, apresentado ontem em Joanesburgo, na África do Sul. O documento, intitulado A maldição do ouro, refere que os chefes de guerra locais se apoiam nos lucros da extracção do ouro para prosseguir as suas acções violentas, mas salienta que também as companhias internacionais beneficiam da situação, enquanto as populações locais continuam a ser vítimas de assassínios, torturas e violações.
A investigação, de quase 160 páginas, mostra como uma das empresas que lidera o sector, a AngloGold Ashanti, que integra o consórcio internacional, Anglo American, estabeleceu relações com um dos grupos armados responsáveis pela violência na região, a Frente Nacionalista e Integracionista (FNI), para ter acesso a locais de extracção, no distrito de Ituri, na província de Bunia. Esta região tem sido palco de confrontos localizados, que ressurgem recorrentemente, apesar dos avanços no actual processo de paz relativo ao conflito que opôs, nos últimos anos, grupos rebeldes ao Governo de Kinshasa.
O relatório também refaz o trajecto do ouro que da RDC passa para o país vizinho Uganda, de onde é enviado para os mercados globais da Europa e resto do mundo. A organização renova anteriores apelos feitos às companhias internacionais para que garantam que as suas actividades beneficiam a paz e respeitam os direitos humanos, e não agravem situações voláteis como a que se vive no Leste do Congo. E dá o exemplo de uma grande companhia suíça de processamento de ouro, a Metalor Technologies, que antes se abastecia de ouro no Uganda e agora, conhecida a origem e as condições em que o ouro é extraído, anunciou que suspenderia as compras a partir deste país.
Pelo contrário, escreve a Human Rights Watch, a AngloGold Ashanti tem dado apoio logístico e financeiro ao FNI e seus líderes, em violação das regras internacionais e do próprio código de conduta da empresa. A empresa desmentiu manter quaisquer relações com este grupo, mas reconheceu que os contactos com a liderança da FNI eram "inevitáveis" e que foi pressionada a efectuar-lhes certos paga-
mentos. A.D.C.

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