Autor de BD Teixeira Coelho faleceu ontem em Florença

Artista açoriano tinha 86 anos, feitos em Janeiro passado

O autor português de banda desenhada Eduardo Teixeira Coelho faleceu ontem de manhã em Florença, onde residia há décadas. Tinha 86 anos.As causas da morte não são conhecidas, mas o artista açoriano - nascera em Angra do Heroísmo em 19 de Janeiro de 1919 - tinha sofrido um rude golpe em Janeiro passado, com o desaparecimento da mulher, Gilda Teixeira Coelho. No entanto, isso não o impedira de continuar a trabalhar, organizando há cerca de um mês, em Itália, uma grande exposição sobre armaduras, que constituía uma das suas paixões.
"Era um grande talento e tinha uma enorme humanidade", evocou José Ruy, autor de BD que conheceu Eduardo Teixeira Coelho (ETC, também conhecido em França por Martin Sièvre, nome com que assinava as suas histórias) aos 12 anos na redacção de O Mosquito, mítica revista portuguesa onde deixou marca indelével. "Havia quem o achasse um bocado fechado, mas era um homem que se entregava às coisas e que ajudava muito as pessoas", acrescenta José Ruy.
O crítico e investigador Leonardo de Sá vê em ETC "o mestre", alguém que "sendo autodidacta conseguiu dominar completamente o desenho e nos deu obras tão esplendorosas, como O Caminho do Oriente".
Apesar da diversificada colaboração que manteve em várias publicações, é em O Mosquito (1936-1953) que o enorme talento de ETC se vai exprimir plenamente. São desse período obras como Falcão Negro, A Lei da Selva ou O Caminho do Oriente. No final de 1954, sem trabalho e em ruptura com o Estado Novo, ETC abandona Portugal. Instala-se em França (de permeio ainda residiu dois anos em Inglaterra), onde enceta uma profícua colaboração no Vaillant (Pif Gadget a partir de 1969), semanário infanto-juvenil do Partido Comunista Francês. A coroação de uma brilhante carreira ocorre em 1973, quando é galardoado no Festival de Lucca (Itália) como o melhor desenhador estrangeiro. Entre 1974 e 1986, coube às revistas Mundo de Aventuras e Jornal do Cuto dar a conhecer uma razoável quantidade de obras do autor, que seria homenageado em 1997 pelo Festival de BD da Amadora.
O que caracteriza o trabalho de ETC é, antes de mais, um traço original, muito elegante e dinâmico, de um classicismo inultrapassável, visivelmente inspirado nos clássicos norte-americanos. Mas soube libertar-se dessa "tutela" para se assumir como autor de uma obra inconfundível no panorama da BD portuguesa de todos os tempos.

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