A Força esteja com todos

Quando apareceu "A Guerra das Estrelas", em 1977, tudo mudou em termos de efeitos especiais ou de configuração mítica para a chamada ficção científica. O filme de Lucas, que arrasava todas as tabelas de campeões de bilheteira, triunfava porque inventava um novo conceito gráfico (até para o genérico), mas também porque revisitava todos os géneros, do musical ao melodrama, criando, em simultâneo, um género próprio para eternos adolescentes amantes da aventura. Mas a fórmula nunca resultou depois: "O Império Contra Ataca" (1980), não possuía a mesma fluência narrativa ou idêntico estado de graça; "O Regresso de Jedi" (1983) exagerava na proliferação de monstros e de criaturas bizarras.

No regresso às guerras estelares, em 1999, com o artifício de gerar uma prequela, ou seja os episódios I, II e III, considerando que o cronologicamente primeiro passava a ser o episódio IV, muita coisa se tinha alterado, tanto na evolução técnica dos efeitos computorizados, quanto na estruturação de uma narrativa mítica, ligada, directa ou indirectamente, ao universo da ficção científica... Assim, "A Ameaça Fantasma" (1999), início da história de Anakin Skywalker (futuro Darth Vader, representação do lado negro da Força), além dos cenários do Norte de África e de milhares de clones de computador, pouco ou nada acrescentava à saga. "O Ataque dos Clones" (2002) esbarrava na mesma insuportável sensaboria, com inúmeras proezas técnicas, mas desligadas de uma narrativa coerente e organizada.

O episódio III, "A Vingança dos Sith", tem, pelo menos, uma vantagem: cumpre um objectivo, fecha um ciclo, tem fim à vista, abandonando o lado deambulatório e hesitante dos seus predecessores imediatos. Quem deseja aventura tem à sua disposição abundância de duelos com espadas de luz, rivalidades entre Jedis e o senado (sempre por trás, uma espécie de reminiscência da História Romana como modelo incontornável), batalhas aéreas e efeitos multiplicadores de computador para todos os gostos. De qualquer modo, o filme não se esgota nesta ganga técnica, regressa à emoção da "space opera" do primeiro "Star Wars", mesmo se não revela a sua ingenuidade e frescura.

Ingénuas mesmo são as cenas de amor, nomeadamente aquela em que Padme revela a Anakin que está grávida, um exemplo do que não faz sentido em nenhum contexto e muito menos numa "ópera espacial". Emoção e relações afectivas entre as personagens é coisa que continua ausente: todos são meros títeres sem profundidade nem sombra de complexidade.

Mas estamos, pelo menos, em território conhecido: Anakin vai passar-se para o lado escuro da Força e os seus gémeos vão ser os resgatadores, que já encontrámos há quase 30 anos. Há uma componente quase perversa nesta nossa satisfação em fechar o "puzzle", mas é facto que a saga precisava de uma "ordem" para todos os que não são iniciados na religião do filme. Acabaram-se os rodeios e os excursos, o que não significa que tudo fique por aqui, só que agora só pode avançar além de "O Regresso de Jedi", na cronologia "normal" de qualquer saga que se preze.

Os diálogos não primam, de novo, pela sua qualidade literária, com pouco humor, se exceptuarmos o linguajar de Yoda, mesmo assim demasiado repetitivo e estereotipado. Dos actores só Ewan McGregor escapa à banalidade mais absoluta, porque parece sair para fora do seu herói e gozar um pouco com ele e com as ridículas situações em que se encontra envolvido. Mas nada disto é importante: o que importa é que a Força esteja connosco, para que continue a hipótese de diversão dos "eternos" adolescentes.

Sugerir correcção
Comentar