O novo disco, contudo, não é tão acústico e folk como alguns esperariam. Produzido por Brendan O'Brien, que surge também no baixo, e tendo Steve Jordan na bateria, conta com uma fatia significativa de arranjos, seja o violino de Sozzie Tyrell, as cordas da Nashville String Machine, os teclados do próprio Springsteen. Alterna temas sombrios, lentos, como "Silver Palomino" ou "The Hitter", com outros alegres e exultantes ("Leah", "All I"m thinking about").
"Devils and Dust" não nasceu de nenhuma necessidade premente de cantar a dor americana, como em "The Rising". Se há um tema sobre "a actualidade" no novo disco, é "Devils and Dust", composto em 2003, sobre a Guerra do Iraque. Todos os outros são, entre uma outra canção amorosa, "short stories", contos sobre personagens anónimas: uma prostituta de Reno, Nevada; um ex-pugilista; os imigrantes que atravessam a salto a fronteira entre o México e os EUA...
A temas mais lentos, mais folk e acústicos, como "Reno", Bruce contrapõe canções alegres, como "Long Time Comin'", que corta com as imagens do quarto sórdido da prostituta de Reno e canta o amor, com ritmo suficiente para entusiasmar uma plateia. "Black cowboys" pode ler-se como uma "short story" sobre a vida secreta de Rainey Williams, que o "Boss" transforma numa balada sombria, alimentada no final por coros, teclado, metais e cordas. "Maria's bed" produz um efeito vivificante. Adeus solidão e tristeza, eis uns pozinhos de Stones e a country rock dos Creedence Clearwater Revival.
O resto evolui entre as narrativas lentas e desoladas de "The Hitter", "Silver Palomino" ou "Matamoros Banks" e celebrações festivas, como "Leah" ou "All I"m thinking about". "Silver Palomino" desenrola-se sob os céus do West Texas. Por fim, "Jesus was the only son" é o gospel do disco, com teclados e coro, cantado como numa numa igreja sulista, com um piano delicado por trás.