Líder da oposição de Taiwan inicia visita histórica à China
Lien é o primeiro líder do Kuomintang (KMT, o partido histórico de Taiwan) a visitar o continente desde que, em 1949, os nacionalistas liderados por Chang Kai Chek, foram afastados do poder pelo Exército Vermelho de Mao Tse Tung e se refugiaram na ilha.
À chegada ao aeroporto de Nanjing, no Leste da China, Lien Chan foi recebido com pompa pelo chefe do gabinete para os Assuntos de Taiwan do Partido Comunista Chinês, Chen Yunlin.
Num discurso proferido na pista do aeroporto, o dirigente nacionalista garantiu que a sua deslocação à China visa lançar as bases “para um futuro comum nas duas margens do estreito de Taiwan” e prometeu o empenho do seu partido nesse entendimento.
“Nanjing não fica longe de Taipé, mas há mais de 60 anos que não a visitava”, recordou o dirigente perante a multidão que o esperava no aeroporto da cidade que serviu de capital ao governo de Chang Kai Chek. “Ao ver-vos aqui agora tenho pena de não ter vindo antes”, acrescentou.
As intenções do líder da oposição não estão, no entanto, a ser bem acolhidas em Taiwan. A partida de Lien Chan ficou marcada por confrontos no aeroporto entre apoiantes do Kuomintang e pró-independentistas, de que resultaram dezenas de feridos e alguns detidos. “Traidor”, gritavam os manifestantes, que o acusam de vender Taiwan à China.
Lien conseguiu evitar os manifestantes e garantiu que a sua deslocação visa recolher informações sobre as evoluções no continente e discutir formas de melhorar as relações com Pequim em matéria comercial e política.
A visita ocorre num momento de grande tensão entre Pequim e Taipé, reforçada depois do Parlamento chinês ter aprovado uma lei autorizando as suas forças a atacarem Taiwan caso a ilha declare a independência formal do continente. Pequim, que mantém perto de 700 mísseis apontados a Taiwan, insiste que a ilha é parte integrante da China, apesar de Taipé beneficiar há mais de meio século de uma independência de facto.
Ao receber Lien Chan – que deverá encontrar-se com o Presidente, Hu Jintao – a China dá um sinal claro que pretende apostar na divisão política em Taiwan, suportando a oposição, maioritária no Parlamento, para contrariar as pretensões pró-independentistas do Presidente Chen Shui-bian. A sua eleição, em 2001, marcou o fim de mais de meio-século de domínio do Kuomitang, um período durante o qual Taipé optou sempre por abster-se de proclamar a independência da ilha.