PCP rompe negociações com PS para coligação na Câmara de Lisboa

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Os dois partidos já tinham admitido que o tempo jogava contra a ideia de uma nova coligação de esquerda na Câmara de Lisboa Pedro Cunha/PÚBLICO

Segundo a mesma fonte, a decisão da direcção dos comunistas foi transmitida ao PS por carta, na sequência de uma missiva também hoje enviada pela direcção dos socialistas ao PCP. Na sua carta, o PS pretendia definir os contornos de uma eventual coligação entre os dois partidos.

Nas cartas trocadas, citadas pela Lusa, o dirigente socialista Marcos Perestrello propôs à direcção do PCP que o PS tivesse uma posição "maioritária" nas listas autárquicas "face aos restantes", tendo em conta os resultados dos socialistas nas últimas eleições legislativas.

Embora adiantasse na carta que a posição dos comunistas deveria ter em conta o seu "papel histórico" na capital, Marcos Perestrello especificou que a posição maioritária do PS teria de traduzir-se "em número de vereadores, de deputados municipais e de presidentes de juntas de freguesia, sendo reservado ao PCP o lugar de segundo partido". O PS propôs ainda que a direcção de campanha fosse constituída por sete elementos: quatro socialistas, dois do PCP e um do Bloco de Esquerda.

Na missiva ao PCP, Marcos Perestrello indicou que estes pontos deveriam ser discutidos numa reunião entre os dois partidos na terça-feira, sendo pela primeira vez alargada ao Bloco de Esquerda.

Na resposta ao socialistas, o dirigente do PCP Jorge Cordeiro considerou "inteiramente compreensivas as pretensões do PS em poder dispor de uma hegemonia de posições e de um papel determinante na coligação". Porém, o comunista sustentou que também "são legítimas e compreensíveis as razões que levam o PCP a considerar que a sua subalternização na coligação não dará garantias suficientes de concretização de um projecto político alternativo para a cidade".

Jorge Cordeiro refere depois que "a impossibilidade real de uma coincidência de opiniões em questões essenciais, agravadas pela escassez de tempo para um processo mais demorado que eventualmente as pudesse resolver", levam o PCP a "considerar esgotado um processo de diálogo que, a continuar, só poderia traduzir num acumular de atrasos prejudiciais para ambos os partidos e favorecedor da dinâmica da candidatura do PSD, que se deseja derrotada".

"Perante a não aceitação por parte do PS das questões que estiveram na origem do pressuposto de uma nova reunião, não vemos por isso razões para a sua realização", acrescenta o dirigente comunista sobre a proposta do PS para um novo encontro na próxima terça-feira.

Marcos Perestrello já veio lamentar a decisão do PCP, afirmando que "o PS queria uma coligação para o futuro e o PCP queria uma coligação do passado". "Lamentamos", referiu o dirigente socialista, que se recusou a fazer mais comentários sobre os motivos que estiveram na origem da decisão do PCP em romper as negociações para a formação de uma coligação.

O primeiro encontro entre o PS e o PCP com vista a um acordo para uma coligação ocorreu a 13 de Abril, quando os secretários-gerais dos dois partidos, José Sócrates e Jerónimo de Sousa, respectivamente, fizeram uma primeira tentativa de entendimento para uma coligação. Seguiu-se um segundo encontro, decorrido anteontem, desta vez entre as direcções do PS e do PCP e sem a presença de José Sócrates e Jerónimo de Sousa. Nesta última tentativa de acordo esteve o cabeça-de-lista socialista para a Câmara de Lisboa, Manuel Maria Carrilho.

No final das duas reuniões, tanto o PCP, como o PS, disseram que um acordo estava ainda distante e que o tempo jogava contra a ideia de se repetir uma coligação de esquerda para a Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas de Outubro. Hoje, o PCP informou o PS que ia romper as negociações.

Antes de concluída uma decisão sobre a coligação para a autarquia, o PS escolheu o vice-presidente da bancada socialista Manuel Maria Carrilho como candidato à presidência da Câmara de Lisboa, enquanto os comunistas escolherem o seu dirigente Ruben de Carvalho para a corrida à presidência da câmara da capital.