Constestação ao Presidente continua no Equador

O estado de emergência foi levantado ao fim de 20 horas, mas os protestos continuam, em clima de profunda crise

Milhares de manifestantes da cidade de Quito, capital do Equador, dizem que vão continuar com as suas manifestações, até que "desapareçam todos" os políticos, a começar pelo Presidente da República, o antigo coronel populista Lucio Gutiérrez. A decisão tomada pelo Chefe de Estado de proclamar na cidade, sexta-feira à noite, um estado de excepção - que anulou 20 horas depois - fortaleceu a resistência dos manifestantes, que não concordam que ele tenha demitido os juizes do Supremo Tribunal.Ao falar sábado à noite pela televisão, Gutiérrez disse que acabava com o estado de emergência porque "obtivera o objectivo principal, que era a demissão do Supremo", mas a oposição não se dá por vencida e chama-lhe um ditador. O presidente do Congresso, Omar Quintana, marcou uma sessão extraordinária para que se ratifique o afastamento dos juizes e onde se debata uma reformulação da lei orgânica da função judicial.
Perto de 10.000 pessoas têm-se manifestado nas ruas desde quinta-feira, fazendo barulho com caçarolas e exigindo a demissão do Presidente, contestado desde Dezembro, quando iniciou a sua guerra contra o Supremo. O Partido Roldosista, de um antigo Chefe de Estado, Abdalá Bucaram Ostiz, é que tem vindo a impedir as tentativas da oposição para o impugnarem, depois de desde 1997 dois presidentes do Equador já terem sido obrigados a demitir-se perante a força das manifestações populares.
A Radio la Luna está a incitar a população a manifestar-se, com o apelo de que "partam todos" os políticos considerados culpados das crises sofridas pelo Equador nos últimos 20 anos.
Na madrugada de ontem verificaram-se distúrbios junto ao palácio presidencial de Carondelet, onde a polícia carregou sobre milhares de manifestantes que ali se tinham concentrado por volta da meia-noite; e dezenas de pessoas foram assistidas pela Cruz Vermelha com sintomas de asfixia, por terem sofrido os efeitos de gás lacrimogéneo.
Abdalá Bucaram, "El Loco", voltou ao Equador no início deste mês, depois de oito anos de exílio no Panamá, e passou a ser um aliado de Gutiérrez, perante a cólera de grande parte da população.
O Presidente do Chile, Ricardo Lagos, já suspendeu uma viagem que esta semana deveria efectuar ao Equador, pois não aceitou deslocar-se no meio de tão grande crise.
A União Europeia, as Nações Unidas, os Estados Unidos, a Espanha e o Peru já manifestaram o desejo de que a crise seja resolvida de forma pacífica, enquanto nas ruas de Quito o papel higiénico está a ser hasteado como bandeira, a querer significar que se torna necessário limpar a classe política do país.

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