José Sócrates diz que concretizou a equipa de ministros que idealizara

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Sócrates afirma que era uma "tarefa fundamental" do seu Executivo "recuperar a credibilidade política e o sentido de Estado" Tiago Petinga/Lusa

"Não esqueço as circunstâncias em que foi dissolvida a Assembleia da República" na anterior legislatura, disse o primeiro-ministro, referindo que era uma "tarefa fundamental" do seu Executivo "recuperar a credibilidade política e o sentido de Estado".

"Só se fala quando se tem alguma coisa para dizer e não por espalhafato ou para comentário político", sublinhou o primeiro-ministro, em entrevista à RTP, a primeira desde que assumiu a chefia do Governo, na qual recusou também ser comparável ao perfil do ex-chefe de Executivo social-democrata Cavaco Silva.

"Este é um Governo sóbrio", sustentou José Sócrates, depois de ter dito estar "preocupado com a situação do país" e de recusar a estratégia de "dramatização dos problemas".

"Os portugueses vão saber a verdade sobre a situação do país, mas não é função deste Governo fazer a autópsia do passado", frisou.

Segundo José Sócrates, na formação do seu Governo, a sua primeira preocupação "foi a de que fosse o Presidente da República, Jorge Sampaio, o primeiro a conhecer o elenco" dos ministros, porque, salientou, "era urgente recuperar o respeito pelas instituições".

Sócrates adiantou que o ex-comissário europeu António Vitorino lhe tinha comunicado antes do processo de formação do Governo que não estava disponível para integrar o Executivo e que "os seus planos eram ser deputado e acabar o doutoramento".

"António Vitorino teve a gentileza e a categoria de nunca o dizer publicamente", acrescentou, antes de garantir que Luís Campos e Cunha foi a sua primeira escolha para as funções de ministro de Estado e das Finanças.

"O modelo de Governo que tinha na cabeça consegui realizá-lo", declarou o primeiro-ministro na mesma entrevista à televisão pública.

Sobre a escolha do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, Sócrates destacou-o como "um dos políticos mais notáveis, com uma folha de serviços invulgar ao serviço do país", e procurou assegurar que a sua chamada para o Governo "foi bem aceite pelo PS".

"Depois de o PS ganhar as eleições falei com ele duas vezes", referiu, quando explicava a forma como convidou o fundador do CDS para o Governo.

José Sócrates recusou ainda que Freitas do Amaral seja conhecido por ser anti-norte-americano, sustentando que as suas posições foram de crítica à intervenção dos Estados Unidos no Iraque.

Escolha do candidato do PS só depois do Verão

José Sócrates aproveitou ainda para remeter a escolha do candidato socialista às eleições para a Presidência da República para depois do Verão ou, eventualmente, para o período posterior às eleições autárquicas, previstas para Outubro. "Depois do Verão ou das eleições autárquicas é que será o momento de o PS se pronunciar sobre as candidaturas à Presidência da República".

O chefe do Governo referiu ainda que o Governo pretende atacar as fraudes "nas baixas médicas, nos subsídios de desemprego e no acesso ao Rendimento Social de Inserção", porque se tratam de "abusos imorais". Neste capítulo, Sócrates apenas especificou que todos os cidadãos que se encontram há mais de 30 dias de baixa "serão obrigatoriamente vistos por uma junta médica" para confirmar os impedimentos derivados da situação de doença.

O primeiro-ministro adiantou também que o Governo irá apresentar medidas de combate à fraude fiscal em Junho, quando entregar na Assembleia da República a proposta de Orçamento Rectificativo para 2005, e estimou que o défice real de Portugal se encontre "muito acima dos cinco por cento e perto dos seis por cento".

Interrogado sobre um eventual aumento de impostos, o chefe do Governo afastou essa possibilidade, dizendo tratar-se "do caminho errado" para a economia portuguesa. "A nossa prioridade é reduzir a despesa, promover o crescimento económico e aumentar a eficiência do combate à fraude e evasão fiscais", contrapôs.

No capítulo dos temas políticos, José Sócrates recusou-se a esclarecer se a sua prioridade é a realização do referendo europeu em simultâneo com as eleições autárquicas ou o referendo sobre o aborto.

"Os partidos propõem os referendos mas não os marcam porque essa é uma competência do Presidente da República", disse, recusando, por várias vezes, esclarecer se o PS quer a realização do referendo sobre o aborto até Junho.