Nino Vieira já se recenseou para as presidenciais da Guiné

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Nino Vieira pode apresentar-se à corrida presidencial de Junho José Sousa Dias/Lusa

Cumprindo um dos anunciados três dias da sua presença em Bissau, Nino Vieira, acompanhado da mulher, Isabel Romano Vieira, recenseou-se numa mesa do bairro de Bissau Velho, recusando-se a prestar declarações aos jornalistas.

Ao recensear-se, o ex-chefe de Estado cumpre um dos objectivos assumidos para o regresso a Bissau, facto que o permite, se assim o entender, apresentar-se à corrida presidencial de Junho, outra das metas, ainda não assumidas, da sua deslocação ao país, após seis anos de exílio em Portugal.

De seguida, e sempre rodeado de cerca de duas centenas de pessoas, o antigo presidente guineense – de 1980 a 1998 – seguiu em caravana de automóvel para uma unidade hoteleira de Bissau, onde recebeu várias individualidades do país, nomeadamente elementos que serviram nos governos sob o seu regime e actuais dignitários.

Nino Vieira esteve reunido com Carlos Correia, primeiro-ministro em dois Governos sob a sua presidência, e com cerca de uma dezena de antigos ministros do seu regime.

Entre as actuais figuras do Estado contam-se audiências que manteve com o líder do grupo parlamentar do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), Cipriano Cassamá, e o CEMGFA, Tagmé Na Waie.

A audiência entre Na Waie e "Nino" Vieira decorreu durante cerca de 20 minutos, sem que os jornalistas pudessem assistir.

O encontro entre os dois antigos companheiros da luta de libertação (1963/74) era um dos temas mais aguardado da deslocação de "Nino" Vieira a Bissau, uma vez que o actual CEMGFA jurou, em 1998, numa entrevista à cadeia de televisão portuguesa SIC, que não lhe iria dar tréguas.

Na ocasião, Tagmé Na Waie lembrou que foi a mando de Nino Vieira que foi torturado e humilhado, marcas que, disse na altura, o apoquentarão para o resto da sua vida.

O contexto da época era então outro, uma vez que se vivia ainda o conflito militar de 1998/99, que viria a culminar a 7 de Maio de 1999 com o assalto final das tropas da Junta Militar a Bissau e a consequente deposição de "Nino" Vieira.

No entanto, após a sublevação militar de 6 de Outubro do ano passado, o presidente interino na Guiné-Bissau, Henrique Rosa, afirmou publicamente que o CEMGFA já havia perdoado Nino Vieira e que, se o ex-presidente regressasse a Bissau, "até lhe daria um abraço".

Hoje, à saída da audiência, Tagmé Na Waie recusou-se a responder às perguntas dos jornalistas sobre o teor da audiência que manteve com o antigo chefe de Estado.

De seguida, Nino Vieira manteve encontros separados com dignitários (anciãos) da região leste da Guiné-Bissau, zonas de Bafatá e Gabu.

Os serviços de protocolo, que têm acompanhado as audiências de "Nino" Vieira com as individualidades, indicaram depois aos jornalistas que o ex-chefe de Estado "pede desculpa" mas não pretende fazer mais declarações além das que fez após a sua chegada à Bissau.