Líder do Sinn Féin apela ao IRA que abandone a luta armada

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Adams pede aos paramilitares para que voltem a demonstrar a sua coragem, desta vez para abandonarem as armas Richard Lewis/AP

"No passado defendi o direito do IRA de se envolver na luta armada. Fi-lo porque os que recusavam ajoelhar-se e queriam enfrentar a opressão não tinham outra alternativa. Agora existe uma alternativa", afirmou o dirigente do principal partido republicano da Irlanda do Norte, tido como a ala política do IRA.

Adams, que na década de 1970 foi um dos comandantes do IRA, não pediu o desarmamento e desmantelamento dos paramilitares republicanos – tal como exigem os Governos de Londres, Dublin e Washington –, mas sustentou que só o Sinn Féin pode ser o legítimo porta-voz dos interesses católicos."Quero aproveitar esta ocasião para apelar à liderança do IRA para adoptar e aceitar plenamente esta alternativa", afirmou o dirigente republicano, durante uma concorrida conferência de imprensa em Belfast.

Em simultâneo, o Sinn Féin emitiu um comunicado, dirigindo-se directamente aos membros do IRA, no qual afirma que "a luta republicana chegou a um momento decisivo". "Peço-vos que se juntem a mim neste momento crucial, para que seja possível intensificar esforços, reconstruir o processo de paz e avançar na nossa causa", escreve Adams.

"A vossa determinação, desprendimento e coragem permitiram a concretização da luta pela liberdade", recorda o dirigente republicano, para, de seguida, questionar: "Sereis agora capazes de adoptar iniciativas corajosas paraque seja possível atingirmos os nossos objectivos apenas através da actividade política e democrática?"

O inédito apelo do Sinn Féin coincide com o primeiro dia de campanha para as eleições legislativas no Reino Unido, agendadas para 5 de Maio, e segue-se a uma onda de contestação que, pela primeira vez, alastrou à própria comunidade católica do Ulster.

Os paramilitares republicanos respeitam o cessar-fogo declarado em 1997, mas o grupo tem vindo a colocar sucessivos entraves ao seu completo desarmamento, pondo em causa o processo de paz iniciado com os acordos de Sexta-Feira Santa (1998). Em simultâneo, o grupo tem sido frequentemente associado a actividades criminosas, a última dos quais um assalto a um banco de Belfast, ocorrido em Dezembro do ano passado.

Mas maior embaraço para os dirigentes republicanos acabou por ter origem na própria comunidade: em Janeiro passado um jovem republicano foi morto por elementos descontrolados do IRA durante uma rixa num bar. A organização terá tentado abafar o caso, mas as irmãs do jovem lideraram uma campanha para pedir o fim da impunidade da organização. O caso acabou por ter repercussões internacionais, em especial nos EUA, até aqui um dos principais apoiantes e financiadores das actividades dos grupos republicanos.

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