Casa Pia: Catalina Pestana conta relatos de orgias na década de 80

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Hugo Martins/Lusa

Na 32ª sessão do julgamento de abusos sexuais de menores da Casa Pia, no Tribunal de Santa Clara, em Lisboa, a provedora disse que a antiga aluna contou que participou nessas festas, em conjunto com outros jovens, onde chegavam sempre depois das 02h00 ou 03h00.

A jovem, que teve a conversa em causa com a provedora no ano passado, terá protagonizado também uma fuga da Casa Pia, com um namorado, tendo os dois sido encontrados em casa de Jorge Ritto, antigo embaixador e um dos arguidos no processo.

Segundo Catalina Pestana, esse episódio foi dos mais "inócuos" tendo em conta os outros que a antiga aluna contou, envolvendo abusos sexuais e drogas.

"Relatou mesmo alguns factos que têm que ver com perversões sexuais", disse a provedora, explicando que a aluna disse ter em seu poder fotografias e vídeos, que não podia entregar por ter feito um pacto com os outros alunos da Casa Pia.

No entanto, segundo Catalina Pestana, nenhum dos actuais arguidos no processo estariam envolvidos nessas festas.
Provedora refere o nome de Carlos Cruz

O nome de Carlos Cruz foi no entanto referido pela provedora, ainda a propósito da conversa com a antiga aluna, que lhe contou ter visto uma fotografia do apresentador de televisão e arguido neste processo numa "caixa de sapatos" em casa de Jorge Ritto.

Respondendo a perguntas do representante do Ministério Público, João Aibéo, Catalina Pestana contou que a ex-aluna terá encontrado em casa do embaixador - para onde o namorado a levou - uma caixa de sapatos, debaixo da cama, onde "disse ter visto fotografias de miúdos nus e que numa delas tinha visto o senhor Carlos Cruz".

A antiga aluna, que segundo a provedora é uma pessoa que precisa de apoio psicológico, contou também que recebe ameaças para não falar sobre o assunto Casa Pia.

Catalina Pestana contou que aconselhou a antiga aluna a falar com a polícia e a mostrar as provas (fotografias e filmes) que tem, mas disse desconhecer se o chegou a fazer, embora saiba que já falou com as autoridades.

Ordens para não falar da fuga dos jovens

Quanto ao caso da fuga dos dois jovens para casa de Jorge Ritto, Catalina Pestana contou que já depois de ser nomeada provedora falou com a antiga directora do lar de onde os dois jovens tinham fugido (também na década 80) e que esta lhe explicou que na altura teve ordens para não falar.

"A directora de então no colégio explicou-me já nesta fase [depois de 2002] que todos tinham recebido ordens para não contar a ninguém o sucedido", disse Catalina Pestana.

Os dois jovens namorados fugiram do colégio Nuno Álvares Pereira e os educadores, preocupados, tentaram saber o seu paradeiro, acabando por descobrir que estavam em casa de Jorge Ritto, onde entraram porque o rapaz teria um cartão assinado pelo embaixador que o autorizava.

Depois de regressarem a "casa", a directora do colégio fez um relatório para o provedor, que era na altura o comandante Baptista Comprido.

Depois de receber o relatório - contou a antiga directora a Catalina -, o provedor, acompanhado pelo seu assessor jurídico (um antigo provedor), foram ao colégio Nuno Álvares e terão dito à directora, segundo as palavras de hoje de Catalina Pestana: "Arrume as suas coisas e venha trabalhar para a provedoria e não volte a entrar no Nuno Álvares. Do que se passou bico calado".

Nesta altura Catalina Pestana trabalhava precisamente na provedoria, mas disse que nunca soube de nada e que a antiga directora só agora lhe contou, visto que tinha ordens para não falar do assunto a ninguém.

Segundo a interpretação da provedora, o que se pretendeu com a despromoção da directora e o seu afastamento e ordem de silêncio foi "não beliscar" a instituição.

"A situação era estranha e provocaria dentro e fora um mal estar como o que actualmente se vive. Muita gente dentro da instituição pensa que deviam [os factos referentes ao actual processo] ter sido vividos com mais discrição. E se tivessem sido abafados não faria mal nenhum", afirmou.