Metade dos europeus contra entrada de imigrantes

Foto
Os inquéritos demonstram receio dos Vinte e Cinco relativamente à concorrência dos trabalhadores estrangeiros André Kosters/Lusa

Os resultados do maior estudo já feito na União Europeia (UE) sobre racismo e xenofobia não permitem conclusões unívocas sobre o grau de discriminação dos migrantes. Mas deixam claro uma tendência: metade dos europeus, sobretudo os menos instruídos e com empregos precários, embora aceite conviver com outras etnias, é contra a entrada de mais estrangeiros.

Feito com base em dois inquéritos diferentes, o relatório apresentado ontem pelo Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos - intitulado Atitudes das maiorias perante as minorias - revela que 50 por cento da população está contra a entrada de mais imigrantes.

Resulta também das estatísticas que as classes com qualificações mais baixas, residentes em meio rural e com salários inferiores, mostram atitudes mais agressivas contra os imigrantes, receando a sua concorrência no mercado de trabalho.

De resto, as respostas dos inquiridos parecem indicar que os europeus estão dispostos a conviver com a diferença, dentro de certos de limites.

Sustentando as suas análises nas bases de dados do Eurobarómetro e do Inquérito Social Europeu, os investigadores responsáveis pelo estudo - da Universidade de Nijmegen, na Holanda - concluíram que, ao mesmo tempo que existe abertura face a uma sociedade multicultural (só um quarto se opõe a uma sociedade multicultural), cada vez mais cidadãos europeus (duas em cada três pessoas) insistem na necessidade dos comportamentos dos migrantes serem conformes às leis nacionais.

Estas sínteses têm, contudo, variações importantes quando se desagregam os resultados por países. A Grécia aparece destacada como o país da União Europeia mais temeroso dos imigrantes e das minorias étnicas (ver texto na coluna).

De destacar ainda o facto de os números atestarem a vontade, já avançada por outras sondagens, dos britânicos e dos belgas em restringir a entrada e os direitos dos requerentes de asilo. Outrora países com forte tradição no acolhimento de refugiados, metade das suas populações são actualmente contra a entrada de mais requerentes de asilo, segundo os dados do Inquérito Social Europeu.

Portugal (ver texto ao lado) posiciona-se de forma dúbia, destacando-se negativamente pela "resistência aos imigrantes" e à "diversidade".

Os países nórdicos fazem justiça à fama, posicionando-se consistentemente na base do ranking dos países mais fechados. Há, ainda assim, diferenças entre eles, com a Finlândia mais resistente à imigração, a Dinamarca mais moderada e a Suécia a colocar-se de forma evidente como o país mais tolerante e cooperante da União Europeia (surge como o menos "resistente aos imigrantes", menos "resistente aos requerentes de asilo", menos "favorável a uma distância étnica" e que menos sente "uma ameaça étnica").

Padrões socioculturais

Relativamente aos dez países que aderiram mais recentemente à União Europeia, os números também não são lineares. De acordo com o Eurobarómetro, verifica-se contudo uma significativa diferença face à questão dos "limites a uma sociedade multicultural (60 por cento dos europeus dos Quinze eram a favor, contra 42 por cento entre a população dos ex-candidatos à EU).

Transversais a todos os Estados e regiões são alguns padrões socioculturais. As pessoas mais jovens "expressam uma maior abertura relativamente à diversidade". Também aqueles que têm um maior contacto com os migrantes e as minorias, ou seja, as populações urbanas são mais empenhados numa sociedade multicultural do que quem vive em zonas rurais.

O Observatório Europeu dos Fenómenos Racistas e Xenófobos, fundado em 1997 e sediado em Viena, Áustria, é uma agência da União Europeia destinada a recolher informação sobre a discriminação na União Europeia.

Os inquéritos do Eurobarómetro foram realizados, em média, a mil pessoas de cada um dos Estados-membros, entre 1997 e 2003. No que respeita ao Inquérito Social Europeu, fizeram-se entre 1500 a 2500 entrevistas na maior parte dos países, em 2002 e 2003.

Sugerir correcção
Comentar